Acaso ou descaso? Algumas denúncias e imagens de aglomeração, não clandestina, em Santa Teresa ES

O município de Santa Teresa, no Espírito Santo, corre o risco de se tornar um foco de contaminação na pandemia do coronavírus

15 de junho de 2021
atualizada em 22 de julho de 2021
Foto envia por leitor, de aglomerações na Rua do Lazer em Santa Teresa ES no dia 12/06
Foto envia por leitor, de aglomerações na Rua do Lazer em Santa Teresa ES no dia 12/06
Há uma grande indignação e decepção de parte da população teresense com a gestão pública no combate ao coronavírus.

Fui candidato a Vereador apoiando a atual gestão. Apesar de eu ainda estar afiliado ao PSL, mesmo partido do vice-prefeito, não concordei com a atitude dele e pretendo me desfiliar.

Este final de semana tinha muita gente em Santa Teresa, não eram só turistas não. Mas é o mau exemplo de alguns governantes que resulta nesse caos da pandemia.

Enquanto o vice-prefeito tirava a máscara para posar com o presidente da República, a cidade de Santa Teresa estava largada em superlotação. (Gabriel Braun).

Tá tenso! Sem barreiras sanitárias, sem medição de temperatura… Tá tudo liberado. Tinham uns quatro ônibus de excursão na cidade no sábado [12/06] e no domingo eu vi mais uns dois. (Anônimo)

Médico e sem máscara em aglomeração. Que exemplo! (Anônimo)

Esse sem máscara é o médico??? Meu Deus... Meu Deus! Que vergonha. Era o Secretário de Saúde? Que exemplo! (Anônimo)

Esta é a nossa cidade turística teresense. Sem policiamento e sem lei! Aglomeração é o que mais acontece, pois não tem fiscalização. E quem tomou a vacina não está nem aí para se cuidar e esquecem que podem transmitir o vírus para quem não tomou e andam sem máscara.

Vamos a um flagra? Foto de um casamento, aglomeração, todo mundo sem máscara (óbvio, para não estragar a maquiagem). (Anônimo)

Acima, compartilhei algumas das muitas denúncias que recebi. Devido a pandemia, tenho estado mais isolada e como minha empresa favorece o home office, nem para trabalhar tenho saído. Sendo assim, mesmo recebendo fotos e filmes, não quis fazer nenhuma publicação das denúncias sem antes verificar, por mim mesma, se os fatos não seriam casos isolados. Fiz uma passagem de carro pela cidade no sábado, início da noite, e fiquei horrorizada com os ambientes extremamente lotados e a maioria das pessoas sem máscaras.

 
Outro fato que, igualmente, me causou grande estranheza por tantas denúncias, foi a respeito do vice-prefeito, médico, que até poucos dias era o Secretário da Saúde ter publicado fotos entre outros políticos, em ambiente de aglomerações, sem máscara, inclusive ao lado do presidente da República que sabidamente é um negacionista, que rejeita o uso de máscaras e protocolos de prevenção.
 

Para muitos de nós, que vimos as fotos, as imagens passaram a mensagem errada. Errada pelo mal exemplo de um gestor público e errada pelo momento de comemoração fútil em um tempo de luto. 

Para o leitor que não conhece nosso município, Santa Teresa fica nas montanhas do Espírito Santo com aproximadamente 25 mil habitantes. Neste momento da pandemia, estamos no risco moderado e com contaminados em franco crescimento. Tivemos 57 mortes confirmadas até o momento desta publicação.

Nossa cidade é de um povo amigável e teimoso, como bons italianos que somos. Economicamente, temos vocação para o turismo e agronegócio. Nosso território possui grande extensão de florestas e terras agricultáveis, sobrando uma pequena parte urbanizada. Eu diria, uma cidade fácil de governar com união e comprometimento. 

Sem querer ser cruel especificamente, com qualquer um em particular, é impossível não nos posicionarmos diante do clamor popular e usar nosso espaço de diálogo para dar voz a população. Além de políticas públicas não estarem sendo vistas e percebidas pelo cidadão teresense, ainda se vê espetáculos de horror com tanta gente aglomerando sem nenhum tipo de contenção. As aglomerações acontecem na Rua do Lazer, em variados comércios, com a presença de turistas e munícipes. Estas lotações, por si só já são um grande problema, mas agregado a isto está o fato de grande parte dessas pessoas não usarem máscara.

É sabido, é lógico, é constitucional, que o direito de ir e vir depende do respeito pela vida alheia. Numa sociedade todos têm o direito de escolher o que fazer, desde que o respeito a vida esteja em 1º lugar. Nem tudo que desejamos convém e diz respeito apenas a nós mesmos. Isto é ser “sociedade".

O comerciante que aceita aglomeração no seu estabelecimento comercial está sendo conivente, coparticipante das mortes em nosso município e das políticas públicas negacionistas assassinas. É forte dizer isto? Sim, contudo não consigo encontrar palavras mais suaves que representem este egoísmo exacerbado que tem levado pessoas que amamos à morte, pois ainda poderiam estar vivas caso houvesse prevenção efetiva, união de objetivos e vacinação precoce.

Não há problema algum em nos solidarizarmos e entendermos as necessidades dos comerciantes em abrir seus negócios. Porém, deveriam vender de maneira responsável para sustentar o seu comércio e suas famílias sem para isso colocar outras pessoas em risco, além de si mesmos!

O que não dá para entender e aceitar é o que se tem visto e sido denunciado por tantas pessoas em Santa Teresa: estabelecimentos comerciais lotados sem respeitar os protocolos de prevenção. E mais aterrador, e que causa maior indignação, é a promessa de políticas públicas não cumpridas, que inibam eficientemente estas aglomerações e o descumprimento dos protocolos.

O município conseguiu imunizar até agora cerca de 17% da população e este, definitivamente, não é um percentual seguro para garantir o afrouxamento dos protocolos. Recentemente, depois de restrições mais severas estabelecidas pelo governo estadual, tivemos um alívio nas mortes diárias, mas tão logo voltamos ao risco de nível baixo, começaram a afrouxar as ações de combate a pandemia no município e em poucos dias saímos da faixa verde para a faixa amarela, e os números de contaminados continuam subindo... 

O que se tem visto em Santa Teresa é um abuso de alguns comerciantes em abrir seus estabelecimentos e deixar lotar de pessoas sem o cuidado e prevenção necessários ao cumprimento dos protocolos anti-covid. O turismo sem controle é um perigo para todos os teresenses, não só para aqueles que lá se aglomeram! É bem verdade que estes não são culpados sozinhos. A parcela da população negacionista, que insiste em não respeitar a vida do outro, a falta de fiscalização eficiente da gestão pública e de uma campanha de comunicação mais ostensiva para educar a população, formam uma bomba de vírus e risco para as nossas vidas.

Como vários leitores do Convergente mandaram denúncias das aglomerações constantes e da aparente falta da gestão pública em fiscalizar, coibir os abusos, fazer barreiras sanitárias eficazes, transparecendo falta de cuidado efetivo com a saúde da população, precisamos nos posicionar para que a população se sinta atendida e os gestores municipais possam repensar suas estratégias e aprimorar, de acordo com o anseio público, ações contra o vírus e abusos negacionistas.

O munícipe Gabriel Braun, foi um dos poucos teresenses com coragem de mostrar publicamente sua indignação, entre outros que o fizeram nas redes sociais. A maioria não tem coragem de fazer denúncia sem o anonimato, devido a característica de cidade pequena onde todos se conhecem e ter um histórico de represália política contra quem ousa exigir seus direitos e expor os erros de quem possui mandato. É um lugar onde a verdade e a sinceridade costumam dar espaço a omissão e perseguição contra quem tenta fazer aquilo que é certo e contraria as pessoas que têm o poder e optam pelo caminho menos acertado. 

Todo comerciante deveria ter o cuidado e se preocupar com os clientes e conseguir cumprir todos os protocolos de segurança e de prevenção. Além disso, deveria haver políticas públicas que suprissem às necessidades desses pequenos comerciantes os ajudando com isenção de impostos, parcelamento de dívidas, com ajuda financeira para manter seus empregados, entre outras possibilidades com muita criatividade e senso de cuidado com todos.

Cuidado e ajuda deveriam ser “irmãos” inseparáveis neste período de pandemia. Não podemos nos curvar ao vírus e sermos seus “amantes”. Muitos teresenses morreram por causa de algum grau de negligência em esferas da política e por conta de cada um olhar para o seu umbigo, "Mateus, primeiro os meus!" Famílias estão enlutadas e nunca mais verão seus amados, muitos eram esteio dessas famílias.

A economia está aí se recuperando a olhos vistos, os comércios se recuperarão rapidamente, os CNPJs não têm dificuldades para se reerguer, mas um “CPF cancelado” não tem como ser renovado, como voltar a vida. Precisamos falar, porque a população precisa ser amparada para, também, conseguir demonstrar empatia e cuidado com aqueles que são frágeis e não deixá-los vulneráveis, ao risco de morte, como se não valessem nada.

Muito foi debatido e discutido sobre valorizar a economia e flexibilizar os protocolos de segurança para a economia e empresas não morrerem. Quando na verdade, deveriam existir políticas públicas para ajudar financeiramente as empresas, seus empregados, desempregados, para que com este suporte todos nós pudéssemos priorizar a vida, cumprindo os protocolos de segurança e sustentando famílias carentes.

O falso dilema de priorizar a economia, nos trouxe até aqui com mais de um ano de pandemia e o Brasil não conseguindo sair do patamar de quase 2000 mortes por dia. Isso significa que pouco está se fazendo para impedir a circulação do vírus e salvar vidas. Sem esta contenção, o vírus encontra facilidade em gerar novas cepas, mais contagiosas e muitas vezes mais violentas e a economia não volta a crescer como deveria.

Com uma política pública coerente contra a violência do vírus, com o suporte necessário, exemplo digno dos gestores e comunicação eficiente, a população já poderia estar respondendo de outra maneira e sendo evitadas muitas mortes. Até mesmo a vacinação foi um problema grave de omissão na gestão dos recursos públicos, chegou tarde para muitos dos nossos amados que nos deixaram, e nos deixaram experimentando uma morte muito sofrida. É urgente e deveria ser pra “ontem" a vacinação. 

Que nossos gestores e nossa população acordem para a gravidade do momento e se revistam de competência, compaixão, misericórdia, de empatia, que salvem pessoas, que amem mais o ser humano. Que neste momento, o maior valor seja o nosso dever para com a vida.

Entramos em contato com o vice-prefeito Gregório Venturin, que nos asseverou, que sempre usa máscara na cidade e fez muito pela saúde municipal enquanto secretário. Afirmou, também, que no evento com o presidente apenas retirou a máscara para as fotografias. Segue transcrição de parte de sua resposta ao Portal:

Gostaria de solicitar que registrem como o município está investindo na saúde! Pegamos sem médicos em algumas unidades… agora está sobrando para ampliarmos os atendimentos, quase dobramos o número de enfermeiros, ambulâncias melhores e outras coisas mais!!! Mas aposto que esse não é o intuito dos financiadores de veículo de comunicação…

Agradecemos a resposta que o senhor vice-prefeito nos enviou e informamos a ele e ao leitor, que desde de sua inauguração, o Portal Convergente se colocou oficialmente a disposição do município, sem nenhuma contrapartida financeira, para contribuirmos com a gestão municipal na divulgação de informação verificáveis e relevantes para os munícipes. E a oferta ainda está de pé, porém não temos recebido qualquer comunicado para publicação e tão pouco nossas mensagens foram respondidas. 

O Portal Convergente surgiu da união voluntária de amigos que escrevem suas opiniões sem interesses financeiros. Nossa motivação é convergir com ideias e informação que contribuam para um lugar melhor de se viver.

imagem de
Carmem Barcellos
Comendadora Augusto Ruschi, técnica em Meio Ambiente, graduada em Administração com habilitação em Marketing, pós-graduanda em Gestão Pública, bancária, eterna aprendiz e artista por vocação
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