"Por que moradores de ruas não morrem de Covid-19?"

Essa pergunta tem sido feita por várias pessoas, desde políticos até pessoas mais simples. Material publicitário tem sido preparado e fartamente distribuído com a intenção de creditar a imortalidade dos sem-teto e negar a pandemia pelo novo coronavírus. Animação profissional e de alto custo foi produzida e compartilhada com frequência. Esse fato me chamou muito atenção, especialmente quando recebi uma dessas artes de pessoa do meu relacionamenteo, a qual eu julgava pouco provável acreditaria nesse tipo de material. Então, resolvi refletir e pesquisar sobre o assunto.

Os moradores de rua morrem? Sim eles morrem, sempre morreram, são mortais e mais vulneráveis que nós. Mas, eles fazem parte do grupo que fica logo abaixo dos perdedores. E não há muitos estudos e pesquisa sobre eles publicados em veículos de massa. Essa gente é tratada pela sociedade como o lixo que se joga pra debaixo do tapete. E há lixo que é jogado longe, descartado longe das nossas vistas para não incomodar.

Alguns cidadãos negam o quê não conhecem simplesmente porque não vêem. Outros, optam pelo achismo e desenvolver teorias que embasam suas ambições a ter a honestidade e o trabalho de investigar os fatos e descobrir a verdade nua e dolorosa. Pior, infelizmente, são os que preferem não saber e creem que em assim fazendo deixam de ser culpados pela omissão e negligência de seus atos.

Será que aqueles que levantam a questão sobre os sem-teto não morrerem de covid-19 estão interessados no bem estar dessa massa doente, faminta e disforme?

Vamos falar de dados? E creio que neste ponto o leitor poderá se assustar. Segundo dados de artigo no site Questão de Ciência assinado pela Dra Natália Pastarenak e Susana Pasternak, sem-teto morrem mais de COVID-19 do que moradores na maioria dos distritos de SP. Incrível, não é? Vejamos um trecho dos dados da matéria:

"Entre os sem-teto, em fins de setembro, esta taxa seria de 164,31 mortes por 100 mil (o total de sem-teto no município, em 2019, era de 24.344 pessoas). Nada desprezível, com ou sem banho. Trata-se de uma taxa superior à de 55 dos 96 distritos da capital: ou seja, se fossem um "distrito", os sem-teto estariam entre os 40% mais atingidos pela pandemia"

Enquanto estamos aqui neste mundo, devemos fazer nossa parte para com o nosso próximo. Nossa parte pode parecer insignificante diante do tamanho das necessidades deles, mas dever é dever. E um cristão sabe que seu dever não será transferido e nem cobrado de outro.

Jesus Cristo disse: "tudo o que fizerdes a qualquer um dos meus pequeninos, a mim estarão fazendo".

Estamos falando de ganhadores e perdedores marginalizados. Os pobres, os miseráveis os desvalidos, os negros, os índios, os escravos, qualquer um que por consequência de exploração, ou negligência, precisam de nós.

Você ja viu nos livros de história, uma pintura, desenho, rascunhos , ou croquis de montanhas de cadáveres negros? E índios? Não! Isso é porque não existiram? De fato, existiram e morreram aos milhares e foram tratados como lixo e descartados como tal. Os relatos históricos são belos , gloriosos, cheios de "honra", força, porque na grande maioria das vezes o ser humano gosta de retratar o que é belo, conveniente e aparenta sucesso.

Não muito distante, alguns séculos, atrás começou o movimento da história crítica com seus questionamentos. E muitos registros têm sido feitos dos absurdos e atrocidades que alguns homens e sociedades são capazes de promover. Podem até tentar esconder, mas nenhuma injustiça ficará invisível a percepção de bons historiadores e impune aos olhos de Deus que tudo vê.

Mas, voltando a nossa questão, esses cracudos de rua não adoecem de covid-19? Eu poderia perguntar, eles não morrem? São eternos? Não vejo os obituários deles! Não vemos nada deles! Não têm certidão de óbito e nem documentos? São ignorados por todos! Desde a mídia até nós cidadãos comuns. Não os vemos? Queremos ver?

Moradores de rua morrem sim de covid-19 e morrem em maior quantidade que nós os com-teto. Coronavírus existe sim e a tragédia está aí a nossa porta.