O Brasil sentado para depor na CPI
Era visível a consternação de todos os senadores envolvidos naquele interrogatório
Na CPI de ontem (2/9) foi entrevistado o motoboy Ivanildo. Era visível a consternação de todos os senadores envolvidos naquele interrogatório. Até espectadores sentiram empatia ao olhar ali sentado aquele homem simples, de aparência sofrida pela passagem do tempo e pelas lutas do dia-a-dia. Nós olhávamos para ele enxergando além do senhor fulano, mas vendo o próprio Brasil sentado ali naquela cadeira sendo confrontado com o absurdo de tantas denúncias de corrupção, descaso com a saúde pública, com a vida dos brasileiros e a contratação de mais de meio milhão de mortos pelo Coronavírus.
Cada entrevistador procurou ao máximo tranquilizar o depoente para que não se sentisse culpado ou intimidado. De fato, não podemos ter certeza se aquele homem falou somente a verdade, se omitiu algum fato para não se auto incriminar ou, se mentiu para proteger seu empregador. A verdade é que a sua presença causou um certo clima de solenidade, todos pareciam estar interrogando o Brasil e pudemos perceber que a maioria daqueles senadores realmente estão envolvidos na verdadeira defesa do país e de seu povo. A CPI se tornou um sopro de esperança num novo Brasil de mentiras e tantos cadáveres.
Houve senadores como o senhor Cajuru e a senadora Soraya, que sentiram a necessidade de cobrar um pouco mais do senhor Ivanildo, que logo em sua primeira resposta ao voto solene de dizer somente a verdade não se comprometeu e, posteriormente, também não quis entregar espontaneamente seu celular para perícia técnica.
Durante todo tempo o advogado aparentou não estar dando liberdade a testemunha de falar o que bem entendesse. E a testemunha apresentou sintomas de estar pressionada a falar apenas o que não comprometeria a empresa e não demonstrou interesse em ser um "herói" brasileiro falando tudo que sabia. Perguntado se lembrava de algum pagamento feito a terceiros, respondeu que não olhava os beneficiados pelos pagamentos dos boletos, mas ao mesmo tempo citou vários nomes em outras respostas. Disse que além de não conferir nomes nos boletos, também, não conferia os valores entregues a ele pelo caixa. Ou seu Ivanildo é um brasileiro como muitos outros irresponsável, ou de muita boa fé, como aqueles que são facilmente passados para trás. Nenhuma das duas características correspondem ao que se espera de um funcionário de alta confiança, que faz operações num total de quase 5 milhões em um pequeno espaço de tempo e que transporta dezenas de milhares de reais em sua mochila.
Parte dos senadores demonstraram preocupação sobre o depoente estar sofrendo algum tipo de manipulação da empresa e de possível incriminação do senhor Ivanildo caso ele se submeta a pressão para apagar dados do celular. Com a negativa da testemunha em entregar o aparelho celular voluntariamente, a CPI decidiu pedir as quebras de sigilo legal. Vamos ver o que será confirmado ou descoberto sobre o nosso Motoboy "Brasil", se a quebra de sigilo for autorizada.