O Frade e a Freira

A Lenda

28 de outubro de 2021
atualizada em 28 de outubro de 2021
Foto reprodução IEMA: Monumento Natural o Frade e a Freira
Foto reprodução IEMA: Monumento Natural o Frade e a Freira

Há muito tempo da imaginação aventuresca e pela tradição oral, chegou aos nossos dias a lenda do Frade e da Freira. Uma formação granítica situada na divisa do município de Itapemirim com Vargem Alta, próximo à BR – 101, Estado do Espírito Santo. São duas rochas, uma de frente para outra, que formam as figuras de um frade e uma freira. O Frade fica localizado no município de Itapemirim, no distrito de Itapecoá, e a Freira, localizada no município de Vargem Alta, no distrito de Jaciguá.

Pela pesquisa que fizemos há diversas versões sobre essa lenda. Em 1938, no livro de edição particular intitulado 'Escada da Vida', o poeta cachoeirense Benjamin Silva inseriu um soneto em que conta a versão mais difundida da lenda. Ele explica a origem de uma escultura natural em duas montanhas situadas entre os municípios de Cachoeiro de Itapemirim e Rio Novo do Sul:

O Frade e a Freira

“Na atitude piedosa de quem reza,

E como que num hábito embuçado,

Pôs naquele recanto a natureza

A figura de um frade recurvado.

E sob um negro manto de tristeza

Vê-se uma freira tímida a seu lado,

Que vive ali rezando, com certeza,

Uma oração de amor e de pecado...

Diz a lenda — uma lenda que espalharam

Que aqui, dentre os antigos habitantes.

Houve um frade e uma freira que se amaram...

Mas que Deus os perdoou lá do infinito,

E eternizou o amor dos dois amantes

Nessas duas montanhas de granito."

Em 1968, Maria Stella de Novaes publicou um livro de 163 páginas intitulado Lendas Capixabas, pela FTD, em que contesta essa versão eternizada por Benjamin Silva, sob a alegação de que as freiras só chegaram ao Espírito Santo no início do século XX, e que “Uma lenda não pode incidir num anacronismo. Nem discrepar da História” (p. 56).

Rodrigo Campaneli, em 2004, publicou um livro com o título As mais belas lendas capixabas, editado em Vitória pela Casa de Artes Campaneli Ltda. A primeira lenda que ele reconta intitula-se “O Frade e a Índia” (p. 8-11), em que substitui a figura da freira pela de uma indiazinha, sob a mesma alegação de Maria Stella de Novaes de que a lenda não pode discrepar da História e de que não havia freiras aqui no séc. XVII. No entanto, uma lenda pode dar-se ao luxo de falsear a história.

Enfim, para contar essa lenda, respeitamos as versões, mas discordamos. O documento mais antigo que traz o nome do Frade e da Freira foi encontrado no diário do imperador Dom Pedro II, escrito em 1860, em que ele desenhou os perfis das serras, vistos do mar, “Frade e Freira!” e Itabira, que chamou de garrafinha, e marcou a hora: “8 e 36m”. Portanto, mesmo não tendo freiras no Brasil à época, a formação granítica já era conhecida por esse nome. É certo que alguém já conhecia freiras em outros lugares e deu nome as pedras. Essa é a versão mais próxima da realidade.

Por outro lado, em 15 de abril de 2021, o governo do estado do Espírito Santo, criou a Lei 11.254, onde estabelece em seu artigo 1°- Fica criada, no Estado do Espírito Santo, a “Rota do Frade e a Freira”, declarada como de relevante interesse turístico e cultural. Para constatar a lenda in loco, pegamos mochila e barraca de acampamento e passamos quinze dias conversando com moradores e vivenciando o clima local, para contar essa bela lenda do Frade e da Freira. O livro já está disponível on - line na Editora Clube dos autores.

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Estêvão Zizzi
Advogado, pós-graduado em direto do Consumidor e autor de vários livros de direito. Trabalhou no Procon Estadual do Espírito Santo como Assessor Técnico, Chefe do Departamento Jurídico e Secretário Executivo. Fundador dos Procons de Guarapari e Vila Velha. Diretor Presidente do IDECON
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