A impressão de D. Pedro II sobre escolas no Espírito Santo
"A letra do professor é sofrível! Gramática nada!"
Se por um lado as belezas naturais encantaram Dom Pedro II em sua visita no Espírito Santo em 1860, o mesmo não se pode dizer do seu parecer sobre a educação no Espírito Santo. Em seu diário, censurou severamente professores e alunos, a caligrafia e avaliou até o domínio das orações religiosas.
Existiam à época 21 escolas de primeira classe nas cidades, vilas e freguesias mais habitadas e 19 de segunda classe em localidades menores. Nessas visitas, Pedro II sentava à mesa de cada professor para analisar o desempenho em sala de aula.
A primeira escola que visitou D. Pedro foi regida pelo professor Manuel das Neves Xavier. Tomando o assento do mestre, o imperador examinou o livro do registro da escola. Folheou o compêndio de gramática portuguesa de 54 páginas, encomendado em 1848 pelo presidente da província, Luís Pedreira do Couto Ferraz, ao brilhante intelectual carioca Luís da Silva Alves de Azambuja Suzano, que se radicara no Espírito Santo. Inquiriu alguns alunos, assim registrando suas impressões:
"Aula de meninos de Manuel Xavier das Neves [sic], 79 matriculados. A letra do professor é sofrível. 60 de frequência. 1.º lê bem mas um pouco cantado – já decoraram toda a gramática do Suzano e agora começam a regra. Está em quebrados, porém não sabe os princípios, e já esqueceu um pouco a regra da divisão. Há 5 anos. 2.º lê hesitando; gramática idem; não sabe a divisão. Há 3 ½ anos. Não sabem nada de doutrina. O professor não me parece cuidadoso. A letra dos meninos é sofrível."
Em visita à escola feminina da professora Vitória Antunes da Penha, eis como impressionou ao imperador essa escola:
"Aula de meninas de Vitória Antunes da Penha. 16 matriculadas. 14 de frequência. 1.ª lê mal; gramática nada; multiplica só. Há 5 ou 6 meses; mas já tinha algum estudo. A professora já serve aqui na Vitória quase 5 anos. 2.ª lê hesitando muito – nada de gramática; multiplica só. Há 8 meses; já tinha estado em aula particular. — 100 — Nada sabem de doutrina e a professora parece má. O livro de matrícula é escrito pelo irmão da professora; a letra das meninas é má."
Já na escola do professor Ortiz, D. Pedro anotou:
"Aula de meninos do Dr. Ortiz. – 54 matriculados. 28 a 30 de frequência. Há 3 meses que se abriu a aula. 1.º lê menos mal, apenas distingue as partes da [oração]. Divide e mal sabe a prova real. 2.º lê pouco melhor – gramática, idem. Multiplica só sem saber a teoria. Nada sabem a explicação da doutrina. Sabem de cor as rezas. Letra dos meninos sofrível; o professor parece bom."
Vale a pena conferir as anotações da viagem do imperador aqui no APE - ES.