Causos teresenses - Episódio Vou de Ônibus
Naquela altura, olhei para a esquerda, procurei e nada do ônibus aparecer, então resolvi brincar de estátua.
_ Bom dia!
_ Bom dia, responderam as duas senhoras e o senhor, que aguardavam no ponto de ônibus!
Ambas tinham o mesmo corte de cabelo bem curto, calças jeans e blusas mimosas. O senhor, atrás, andava de um lado para o outro de roupa social e chapéu. No interior de Santa Teresa ES, onde moro, muitos homens não usam roupas esportivas. Ele parecia aborrecido.
_ Vai pra Vitória? Indagou a mulher magrinha com bolsa preta olhando para a fenda do meu vestido comprido, que insistia em mostrar que minha perna não via sol há um bom tempo.
_ Sim, respondi sem graça!
_ Deve estar quente lá, né, filha? Disse a outra mulher que aparentava ser mais nova que eu, e também olhava para minhas mãos tentando apaziguar a briga entre as duas partes do meu vestido.
_ Sim, está quente, por isso prefiro usar vestidos na capital.
_ Mas, está levando uma blusa de frio! (eu levava uma jaqueta curta)
_ Vai pro médico?
_ Sim, disse eu, não querendo entrar no assunto doença que costuma render muito.
_ Mas, a gente só sai de casa mesmo prá ir no médico, né? disse a outra.
_ ram, ram. Então, as senhoras também vão ao médico?
_ Vamos! Você não acha melhor ir de calça comprida?
Por um tempo fiquei pensando: por quê? Será que médicos não gostam de mulheres de vestidos? Uma ginecologista me disse certa vez que mulheres sempre deveriam usar vestidos para evitar as irritações do calor....
_ Não! Para mim tanto faz, eu disse!
_ Ah, eu não fico à vontade. uma falou para a outra, como se eu estivesse indo de biquíni fio dental e não pudesse participar daquela conversa.
_ Nem eu, disse a outra, ainda mais com o vento levantando a saia!
_ Naquela altura, olhei para a esquerda, procurei e nada do ônibus aparecer, então resolvi brincar de estátua.
_ É que eu tenho sistema nervoso. Disse com carinha triste, a mulher de bolsa preta. E continuou... Cê me desculpa, tá nega?
_ Tudo bem, eu também tenho, disse mais calma.
_ Ma... como tudo bem? Deus me livre, e tenho tireoide ainda! Pensa você, que luta a minha!
_ Mas eu também tenho tireoide, falei vingativa!
_ E fala com essa calma? Bom, não deve sofrer o que "nóis sofre", né? Bateu amistosamente no meu ombro e olhou para a colega ao lado de cara amarrada.
Nisso, o homem que se apoiava no pilar do ponto de ônibus se manifestou:
_ Isso é de tanto esfregar a casa e reclamar o dia inteiro, eu tomo umas pinga e nunca tive nada! Já estou me aposentando! Vocês, até com o vestido da moça já estão implicando, um vestido comprido desses!
Foi aí que percebi, que eles estavam em família e que todos tinham sistema nervoso (rs).
_ Lá vem o ônibus, disse eu! E sentei bem lá no fundo, sozinha, com minha tireoide e meu sistema nervoso em paz!