O curioso caso no banheiro da cervejaria

Era câmera ou sensor de “CO²”?

25 de novembro de 2021
atualizada em 25 de novembro de 2021
Foto reprodução
Foto reprodução

Aconteceu desta semana circular dois vídeos nas redes sociais que chamaram muito minha atenção. Eu os recebi na mesma data que a cervejaria publicou uma nota de esclarecimento. Portanto, não dá para eu saber quando ocorreram os fatos registrados. 

O caso se passa no interior do Espírito Santo. Uma mulher descobriu no banheiro feminino de uma das cervejarias da cidade um dispositivo, no mínimo suspeito, saindo de um buraco mal acabado na parede. A mulher, que não mostra o rosto e não se identifica, afirma no vídeo ter encontrado uma câmera que, imaginando ela, estaria filmando as mulheres no momento de sua intimidade no sanitário. 

Com as mesmas medidas e aparência de uma mini câmera filmadora, a mulher mostra o objeto indigna com a descoberta. O dispositivo atravessava a parede saindo de um largo buraco logo abaixo de um porta papel. O leitor poderá ver os detalhes no vídeo ao final deste artigo. 

Em um segundo vídeo, pode-se ouvir um homem conversando com a mesma mulher da filmagem anterior. Deduz-se que ela chamou alguém da empresa para reclamar e pedir explicações sobre sua desagradável descoberta. O homem explica que o aparelho era um simples detector de CO², ou seja, um aparelho para "cheirar" e identificar dióxido de carbono (não seria metano?). Enfim, talvez fosse um sensor que acionasse um exaustor com objetivo de dispersar mau odores para fora do recinto.

Mesmo que a explicação possa ser verdadeira, o buraco na parede era tão largo que dava para ser vista a sala do outro lado da parede. Caso alguém quisesse dar uma olhadela para dentro do banheiro, poderia fazê-lo tranquilamente através do buraco sem necessidade de uma filmadora. 

O ocorrido me despertou várias dúvidas e justa preocupação, de forma que eu não poderia deixar de escrever sobre a curiosidade do ocorrido. Pensei em pedir esclarecimentos a cervejaria, mas não foi preciso. A empresa fez uma publicação em Nota de Esclarecimento, como pode ser lido baixo parte da transcrição: 

"Circula na Internet um vídeo que mostra supostamente uma câmara em um dos banheiros utilizados por funcionários e diretoras e funcionárias da Cervejaria Teresense. Foi aberto uma sindicância interna para apurar o ocorrido, com o afastamento do suposto envolvido.
A Cervejaria Teresense é sustentada por valores e princípios pautados na dignidade de seus colaboradores e pleno respeito a seus direitos. [...]" (sic)

A cervejaria esclarece no texto que está apurando os fatos e que já teria afastado o funcionário supostamente responsável pela instalação do aparelho. O trecho "afastamento do suposto envolvido", não faz sentido algum. Se o funcionário fez o buraco e instalou o equipamento, com ou sem autorização, deixa de ser "suposto" envolvido. Em outro trecho: “...mostra supostamente uma câmera” me desperta mais dúvidas. O vídeo mostra ou não uma câmera? A cervejaria não teve acesso ao aparelho?

Também é estranho notar que a cervejaria explica ser o banheiro de uso “das diretoras e das funcionárias”, dando a entender que o local não seria usado por clientes. Contudo, a pessoa que grava o vídeo da denúncia não parece ser funcionária da empresa. A mulher demonstra espanto com a descoberta e não dá indícios de conhecer o funcionário que explica a utilidade e do que se trata o aparelho em questão.

Eu perguntaria aos responsáveis: ninguém viu, nem ouviu, uma pessoa entrando no banheiro e fazendo um buraco daquele tamanho sem autorização? E ninguém mais teria acesso, ou não viu, a parte maior do aparelho que fica instalado no outro cômodo que divide a parede com o banheiro? Quem aparece no vídeo explicando que se trata de um sensor de CO² ? Se é um aparelho para medir algum tipo de gás, porque a nota não afirma o mesmo? 

Outra observação que chama muita atenção no episódio é a localização do dispositivo, aparecendo logo abaixo do porta papel, ou seja, ele está numa posição que eventualmente atrapalharia uma filmagem. E caso seja apenas um sensor, não teria nenhuma utilidade para medir o tal CO² (“gás carbônico”), se o banheiro não tiver exaustor. 

Procurei na Internet (Comparando imagens no Google lens) imagens de sensores para medição de gases; e, imagens de mini filmadora. Encontrei diversos modelos, tanto de sensores, quanto de filmadoras. E o aparelho mostrado no banheiro da cervejaria tem mais características de uma filmadora.

O buraco para instalação do aparelho está muito mal acabado. O que nos leva a crer que não caracteriza uma obra feita por profissionais e nem estaria no mesmo padrão dos outros espaços do prédio. Realmente, lembra trabalho de um amador e instalado num local pouco convencional. Estas constatações, ainda que superficiais, nos deixa a triste sensação de desconfiança e medo de que possa ter alguém mal intencionado por trás disso tudo.

De toda forma, cabe esperar maiores esclarecimentos dos fatos. Da mesma forma que não devemos nos precipitar em um julgamento negativo, não podemos deixar um caso como este, aparentemente grave, sem respostas.

A preocupação da senhora, que gravou a denúncia, é legítima. E para o leitor entender a possível gravidade do ocorrido citaremos dois trechos do código penal: 1) registrar cenas de nudez sem autorização caracteriza crime de "registro não autorizado da intimidade sexual" previsto no Artigo 216-B; e, 2) divulgar e distribuir as imagens caracteriza o crime previsto no Artigo 218-C (ambos do Código Penal - Decreto-Lei 2.848/1940). Nestes casos, não parece que uma sindicância interna seja adequada para apurar os fatos. Nosso conselho à cervejaria é acionar as autoridades, policia civil ou MP, para apurarem o evento de maneira isenta.

Confiamos que os responsáveis pela empresa esclarecerão tudo aos cidadãos e tomarão as devidas providências, caso seja comprovado algum crime.

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Carmem Barcellos
Comendadora Augusto Ruschi, técnica em Meio Ambiente, graduada em Administração com habilitação em Marketing, pós-graduanda em Gestão Pública, bancária, eterna aprendiz e artista por vocação
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