Você sabe o que é adicção? Não tente vencê-la sozinho

Diário de um adicto

Natalino Molaes *
3 de dezembro de 2021
atualizada em
Foto: Natalino Molaes
Foto: Natalino Molaes

Só depois de muito tempo de adicção que eu fui saber o que era um adicto.

Sim! Adicção é uma doença – é ela que nos faz adictos e não as drogas e nem o nosso comportamento. Desde a minha tenra idade minha mente já apresentava os primeiros sinais da doença.

Muito do aprender sobre o que é certo e o que é errado, conhecer valores morais e desenvolver crenças e princípios deve ser observado durante a infância, e com quanto mais amor isso for ensinado, melhor! Nunca o mundo esteve tão necessitado de amor.

Existe uma coisa dentro de mim que me torna propenso à obsessão, à compulsão e a impulsividade, em muitas áreas de minha vida.

 “esse menino é impossível!”

E isso, lá na infância, me fez recusar o meu presente, o meu aqui e agora. Eu não me aceitava como eu era. Sabe? Eu desejava ser o que não era. Ter o que não tinha.

Muitos pais fazem os filhos pensarem ser o super homem ou a mulher maravilha. Mesmo se tivesse todo o necessário para uma infância feliz, qual pai não quer que seu filho seja melhor que o do outro?

Isso me dava a coragem que precisava: a fuga era para os doces, roubar manga no quintal vizinho, invejar os amigos, ser o mais forte, olhar as meninas pelo buraco da fechadura, colar na prova, ser o esperto, ficar com o troco dado erradamente e outros pequenos “atrapalhos”. Isso moldou o meu caráter que foi construído por meio de hábitos e relações que fazem parte do meu aprendizado individual.

Caía nas armadilhas das rotinas obsessivas sem saber. E, ainda, estou sujeito a cair! Não pense você que escrevo pensando saber tudo. Não! Venho em busca de ajuda. Alivio-me enquanto escrevo e quando mostro o que sinto. Venho trocar conhecimento. Partilhar a minha dor é diminuir essa dor. Se não orar e vigiar e viver um dia de cada vez, só por hoje, não adianta.

A Adicção é uma doença incurável, progressiva e fatal. Ela não me leva a lugar nenhum, a não ser à decadência física, mental, espiritual e emocional.
Até pouco tempo atrás, quando eu ainda negava a doença, eu era incapaz de enxergar a realidade. Culpava os outros pelos meus fracassos.

Depositava expectativas irreais em meus familiares, amigos e empregadores. Dando desculpas plausíveis para tudo e para todos. 
Eu não sabia, mas iria chegar a um fundo de poço, tão fundo, mas tão fundo e escuro, que só a luz fina e clara, pôde me tirar de lá. Só a luz pôde me trazer uma visão mais clara do real, me deu coragem para sair daquele ambiente, me fez perder o medo e me encheu com todo o seu amor.

Nesse espaço, sou convidado pela equipe do Portal Convergente, para contar essa e outras histórias, através de textos, que eu chamo de micro contos da minha luta diária.

A sua companhia em muito me ajuda. Penso, também, que minhas histórias e vivências podem ser aproveitadas por quem lê e isso me inspira a continuar. Ser útil na minha dor me traz ânimo para lutar.

Assim, vou te contar como vem sendo a minha recuperação e, garanto, pode ser de muitas maneiras, mas nunca sozinho.

Agradeço por fazer parte. Até a próxima.

* Sobre o autor: Natalino Molaes (1971), filho da compositora Maria José Mota Molaes, é um escritor brasileiro. Conhecido por suas crônicas e contos de humor. É publicitário, redator, roteirista de comerciais para televisão e concept para planejamento publicitário.

Contato: natalinomolaes@gmail.com

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