O nascimento do verdadeiro Homem

Diário de um adicto

Natalino Molaes *
7 de dezembro de 2021
atualizada em 10 de dezembro de 2021
Foto de arquivo pessoal
Foto de arquivo pessoal

Então, chegou o mês de dezembro, e logo, chegará o dia do nascimento daquele que nos ensinou: “o homem e o universo não são materiais e temporais, mas sim espirituais e eternos”.
Mesmo que a minha compreensão a respeito do menino Jesus, ainda seja do tamanho de um grão de mostarda, ela há de me trazer renovação, tamanha é a sua misericórdia.

O primeiro passo em direção a Luz é, por definição, o início do processo da “salvação”. 
Antes, em minha drogadição, a Adicção “ativa”, eu era escravo do vício, de uma força inferior, que criava uma rotina compulsiva e obsessiva em minha vida. Que só me fazia pensar em obter, usar, descobrir meios e modos de obter mais, para usar cada vez mais e mais.

Render-me a um Poder Superior da “Minha Compreensão” foi lindo. Foi igual aquele dia em que me apaixonei por uma linda e singela moça, ainda nos anos escolares. E que mais na frente, viria a ser o amor da minha vida.

Assim, o poder transforador, cuidadoso e amoroso, veio com a luz, até a mim, adentrar o fundo daquele poço escuro, frio e fétido. O abismo onde eu me encontrava sozinho. Uma dolorosa região escura da noite. Um lugar erguido e cultivado pela mente doentia de um adicto. Onde só a Luz pura e fina pôde entrar e tocar o meu coração.

Na mesma hora, a Luz verdadeira começou a sustentar um processo de elevação e purificação dos meus pensamentos, que me levou a um estado de identificação consciente com a fonte inesgotável de todo o bem.

Levantei-me e saí de onde estava, dando o meu primeiro passo, em direção a uma longa caminhada para a salvação. Sim, é um processo gradual e lento. Um pouco mais adiante, parou um carro, era o de minha esposa, veio me resgatar.

Ali, entendi como o Poder Superior usa às pessoas para nos auxiliar. Sempre pensei em um Deus distante, deixando de ver a Força do Amor que estava ao meu alcance.

Fui levado primeiro para casa, onde tomei um banho, fiz a barba, troquei a roupa. Minha esposa estava disposta a agir e fez tudo o que eu vou lhe contar, em meu Diário de um adicto.

Existia uma rede familiar e amigos orando por mim. E ali, sendo conduzido pela Força Superior, eu já não controlava mais nada, nem mesmo a minha vida. Algo me dizia: “Ei! Não adianta, renda-se! Aceite a verdade. A hora da mudança chegou! Renda-se!”. Eu aceitei! Não queria que minha vida fosse como antes.

Neste mesmo mês de dezembro, mês de nascimento do Rei dos Judeus e meu “salvador”, eu já tive vários momentos em recuperação.

Todos eles me ensinaram um tanto de coisas, mesmo quando eu fui o mais babaca dos adictos. 
Sim! Mesmo em recuperação, sem usar, eu já consegui estragar a festa de Natal de muita gente. Essa doença ela é migratória, sem eu perceber ela aparece em outra ação, em outro estágio, como se fosse outra “espécie” dela mesma.

Aquele sentimento represado contra o meu irmão - “A trave no meu olho” - que ainda não estava resolvido: ciúme, inveja ou orgulho. Vem à tona e estoura o saco do Papai Noel! Pow!

Eu não conseguia me controlar era a faísca que precisava para causar em mim os instintos mais primitivos, que em algumas vezes, me fizeram esquentar o suave clima natalino. E as crianças? Meu Deus! As crianças!

O entendimento das coisas do espírito se faz necessário, para o bem de minha recuperação. Mas se eu ainda não puder entender, ou me perder diante do assunto, não devo me assombrar. Devo saber que o mais importante, para o adicto em recuperação, só por hoje, é não usar.

E hoje eu não usei e nem vou usar. Tenho amigos! Companheiros que estão junto comigo nessa jornada. Posso orar e pedir. Posso confiar em um Poder Superior.

Pois assim Jesus falou e eu aprendi:

“Peça, e lhe será dado! Procure, e encontrarás! Bata, e a porta vos abrirá! Pois todo aquele que pede, recebe; quem procura, acha; e a quem bate, a porta será aberta”

Se meu conceito sobre a terra e o homem for somente material:

“mesmo que eu tenha que roubar, vou comprar o presente mais caro para dar a minha filha neste natal”.

Continuarei na adicção alimentando uma expectativa irreal. Porém, se entender que valores espirituais, são os recursos verdadeiros, que realmente preciso e, que nunca podem ser diminuídos ou exauridos:

“estar limpo neste Natal e está conhecendo e buscando praticar os princípios espirituais que Jesus nos ensinou, deixa minha filha muito mais feliz do que um presente caro”.

É o sinal claro de mudança de pensamento e de atitude. É o sinal que já estou começando a receber da essência Divina o conhecimento necessário à minha salvação, que ainda vem chegar, bem mais na frente. Mas já posso agradecer o pouco que estou recebendo, por que é muito, é valioso. É o melhor presente que já ganhei e que posso também oferecer agora, ao meu próximo, por amor.

Eu gostei muito de ter escrito este texto, espero que você tenha gostado de ler.

Só por hoje vou dar um ressignificado a minha vida e ao meu Natal.

* Sobre o autor: Natalino Molaes nasceu no carnaval de 24/02/1971, filho da compositora Maria José Mota Molaes, é um escritor brasileiro. Conhecido por suas crônicas e contos de humor. É publicitário, redator, roteirista de comerciais para televisão e concept para planejamento publicitário.

Contato: natalinomolaes@gmail.com

PublicidadePublicidade