A revolta da vacina

Hoje, conhecida como “Coleira no pescoço“

29 de dezembro de 2021
atualizada em 29 de dezembro de 2021
Foto Alan Santos
Foto Alan Santos

“Estamos trabalhando agora com a Anvisa, que quer fechar o espaço aéreo. De novo, porra! De novo vai começar esse negócio? Agora tem a Ômicron. Vai ter um montão de vírus pela frente. Um montão de variante pela frente. Peço a Deus que esteja errado. Mas temos que enfrentar”, disse o presidente Bolsonaro em 07/12 sobre a Anvisa.

A Anvisa nunca sugeriu fechar o espaço aéreo brasileiro. Em seguida, notas técnicas encaminhadas ao governo desde a semana passada, a agência tem defendido medidas de contenção para que o país possa se preparar melhor para enfrentar a nova variante.

E para completar a sinfonia, o presidente distorceu a proposta da Anvisa e chama passaporte da vacina de “coleira no pescoço”. Ele disse: “Por que o passaporte vacinal? Por que essa coleira no povo brasileiro?”, indagou em cerimônia no Planalto. Mais cedo, mentiu ao dizer que a Anvisa propôs fechar o espaço aéreo. Todo esse imbróglio nos fez relembrar a revolta da vacina ocorrida em 1904.

Entre os dias 10 e 18 de novembro de 1904, a cidade do Rio de Janeiro viveu o que a imprensa chamou de “a mais terrível das revoltas populares da República”. O cenário era desolador: bondes tombados, trilhos arrancados, calçamentos destruídos — tudo feito por uma massa de 3 000 revoltosos. A causa foi a lei que tornava obrigatória a vacina contra a varíola. E o personagem principal, o jovem médico sanitarista Oswaldo Cruz. Mesmo com toda essa ignorância, hoje, a varíola está extinta no mundo todo. E a Organização Mundial da Saúde, da ONU, discute a destruição dos últimos exemplares do vírus da doença, ainda mantidos em laboratórios dos Estados Unidos e da Rússia.

Enfim, basta aos governadores aplicarem o que determina a Anvisa e ponto final. O que não é crível e fechar os olhos para a realidade.

 

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Estêvão Zizzi
Advogado, pós-graduado em direto do Consumidor e autor de vários livros de direito. Trabalhou no Procon Estadual do Espírito Santo como Assessor Técnico, Chefe do Departamento Jurídico e Secretário Executivo. Fundador dos Procons de Guarapari e Vila Velha. Diretor Presidente do IDECON
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