Hoje, Deus Falou Comigo

O diário de um adicto

Natalino Molaes *
18 de dezembro de 2021
atualizada em
Foto ilustração
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Assim ele começou: pare de escrever essas bobagens que tem escrito sobre mim, Natalino! Você não sente que eu sou aquele que existe em você? Ainda buscas fora de ti o que há de mais perfeito dentro de você?

Foram os seus opressores que lhe fizeram crer que eu estava distante de ti. Eu sou a Luz que existe, também, em você. E quero deixar isso bem claro!

O pelo do cão muda, o cabelo da moça muda, e assim como tudo muda, não é estranho que você, também, mude. Certo?

Pare de escrever bobagens sobre mim. Eu estou lhe pedindo. O que os adictos vão pensar que sou?

Daqui a pouco, vão dizer que Deus também é um opressor, que Deus castiga! É preciso ter mente e coração abertos para me conhecer, meu filho: eu sou Amor. 

Quero que pare de escrever bobagens sobre mim. Já são muitos os que fazem assim, não precisas repetir os mesmos erros.

Eu nunca puni você por ter feito uso de Álcool ou Drogas que prejudicam a sua saúde. Eu nunca te acusei de ser pecador. Pare com isso.

Eu, apenas, como Pai, amigo e um bom conselheiro, pedi para não usar. Mas nunca lhe proibi. Eu estava com você, qual é? Estamos juntos! Eu nunca te abandonei, porém você fez porque quis. 

A regra é clara e é para todos, tenho que ser justo: você deve sentir as consequências para que reflita se vale a pena fazer de novo ou não!

Olhe o lado bom das coisas: poderia ser pior... é ou não é? Mas eu não tenho nada com isso não! A minha morada é dentro do seu coração. Às vezes, é verdade, que me colocas para fora e alugas por temporada para outros inquilinos. Mas eu coloco meu papelão no chão de suas artérias e fico por ali, quando me chamas novamente, eu fico mais animado do que o Chico Buarque no ‘Tô voltando’. O coração chega a bater mais forte. A emoção de ser aceito por você é uma coisa extraordinária.

Tu sempre terás o livre arbítrio para escolher, entre eu e outro para ocupar o seu coração.

Geralmente, ególatras, pessoas que nunca perdoam e guardam mágoas por prazer, que carregam consigo a doença do ressentimento e têm seu coração fechado para o amor são as que ainda fazem a escolha errada. Mas esse não é o seu caso. Relaxa!

No seu caso, é só parar de escrever essas bobagens que tem escrito nesse diário sobre mim. E vamos juntos remover esses seus sentimentos que nasceram em ti. Lógico, fui eu quem te fiz e te conheço! Então, eu vou te ajudar e ser a tua força. Mas lembre-se que lhe dei também a inteligência para que depois de tanto errar e saber que fazendo de novo, o resultado será o mesmo, tu não conseguirá mudar, nem um cisco desse chão sem a minha ajuda.

Aí, eu estarei aqui, por isso que lhe digo: pare de ficar escrevendo bobagens sobre mim, quando estiveres cansado, fraco e doente, faça silêncio e ouça o seu coração, você vai sentir que meu jugo é leve. Respeite o seu próximo e faça do meu espírito o seu guia.

Se quiseres ser grato a mim, faça o que escreveu Spinoza: demonstre cuidando de você, da sua saúde, das suas relações, do mundo. 

E fique sabendo: o maior conquistador do mundo, imbuído de extrema tolerância e capacidade de adaptação, transformou pessoas em discípulos fervorosos. Nem eu consegui! Este é o dinheiro.

Pessoas que não acreditam no mesmo Deus, nem obedecem ao mesmo Rei, estão mais do que disposta a utilizar o mesmo dinheiro. Pessoas com ódio e preconceito, sejam religiosos, políticos, de todas as culturas, de todas as raças e classes sociais adoram dólares, quer dizer, o mesmo dinheiro. 

Como o dinheiro teve êxito onde deuses e reis fracassaram? As pessoas confiam mais no dinheiro do que em Deus.

Adictos são apenas 3 a 4% da população mundial. Se tivessem mais Amor, mais atenção desde a primeira infância, resolveríamos isso facilmente.

Eu lhe peço, pare de escrever bobagens sobre mim e continue voltando para as salas de recuperação. Funciona!

Viva intensamente as 24 horas de hoje. Te dei o mar, cachoeira, floresta, montanha, campo... Te dei suas filhas, sua família, seus amigos verdadeiros... você tem a literatura, teatro, tem cinema, tem futebol. Pra quê usar droga?

Pare de usar e de escrever besteiras sobre mim. Coloca isso aí em seu diário! Por favor, ouça seu coração!

- Sim senhor!

* Sobre o autor: Natalino Molaes nasceu no carnaval de 24/02/1971, filho da compositora Maria José Mota Molaes, é um escritor brasileiro. Conhecido por suas crônicas e contos de humor. É publicitário, redator, roteirista de comerciais para televisão e concept para planejamento publicitário.

Contato: natalinomolaes@gmail.com

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