Ao invés de ficarmos na depressão, que tal, vitalidade?

O Diário de Um Adicto

29 de dezembro de 2021
atualizada em 29 de dezembro de 2021
Foto de Natalino Molaes de rosto lavado pronto para recomeçar
Foto de Natalino Molaes de rosto lavado pronto para recomeçar

Naqueles dias, da ativa, also not aparentava estar triste demais, apesar de a tristeza existir. Mas, eu havia perdido sim, a energia que nos dá vontade de viver.

Vivia da energia do lado “obscuro” da força.

A cada dia que passo em recuperação, fazendo o que me é sugerido, sinto que a ambivalência dos meus sentimentos, ou seja, minha natureza contraditória vem sendo removida do meu ser. Só por hoje!

Acredito ser devido à entrega, ao entendimento da existência de um poder superior, da desintoxicação e da importância que tem sobre o ”conhecer mais” a doença.

Seria uma injustiça divina permitir que só as pessoas instruídas, com tempo e dinheiro para comprar livros caros, pudessem ter acesso ao verdadeiro conhecimento.

É bom refletir, que a doença da adicção acomete homens, mulheres e crianças e não está relacionada somente às drogas, mas a qualquer outra manifestação compulsiva que a pessoa tenha demasiadamente.

Alcool também é droga!

Entender o que é adicção ajuda a direcionar condutas favoráveis ​​à superação de muitos problemas, como a depressão, por exemplo.

A ideia de que somos aquilo que podemos comprar é bem real no mundo de um adicto na ativa.

Eu vivia em estado de estresse e ansiedade pressionada por minha própria mente a consumir cada vez mais.

Aprendendo mais sobre a doença, descobri que em mim, isso era um gatilho para potencializar como crises depressivas, já que quando passava o efeito me sentia triste, deprimido e com a necessidade de consumir mais e mais.

Mas, cadê o dinheiro para comprar?

Não tinha! Era obrigado a mentir, manipular, roubar de mim mesmo, de minha família, de minhas reservas, do dinheiro reservado para uma viagem que poderia fazer com as crianças ...

Como é bom poder, mesmo que aqui e agora, enxergar além das futilidades que me cercam e me cegam.

Naqueles dias, naquelas noites não importava aonde iria, estava sempre perdido.

Hoje! E, só por hoje, alguma coisa mais forte que tudo aquilo que aconteceu comigo prevaleceu: o desejo de parar de usar. É, estou limpo! Eu resolvi correr esse "risco". Mesmo que ainda continuasse com as mesmas preocupações, não teria importância para mim. Sei que o exercício, a prática diária, aos poucos, vem me libertar das cargas que eu mesmo criei em minha vida.

Sem saber aonde se quer chegar, nos lugares mais próximos, nos lugares mais distantes, não importa aonde se vá, estarei sempre perdido. Você quer pensar que sou um fugitivo? Um desertor? Pois, bem! Que pense.

Não quero mais ser um maníaco depressivo, muito pelo contrário, quero incitar sim, como as pessoas a pensarem em viver uma vida melhor. Tem muita gente perambulando, ou parados em quartos escuros, por aí, acolá.

As pessoas não parecem nem um pouco satisfeitas. Mesmo as drogas já não consigo o efeito e o prazer prometido.

Estive em várias “rodas” durante meu tempo de ativa, da alta sociedade ao baixo clero em baixo do viaduto.

Nos anos 80, uma conversa era de pura liberdade de expressão, paz e amor. “A maconha acabou com o movimento estudantil”, já me dizia um professor da faculdade.

Nos anos 90 já éramos incompreendidos; “Juventude transviada”; um período de efervescência cultural.

Ano 2000, o mundo acabou, mas foi em sexo drogas, Rock and Roll e Terror.

Veio a era da conectividade e dos atentados terroristas. Tudo ficou mais rápido, mais líquido. Até mesmo o amor.

Na nova realidade existia Bin Laden, Al Qaeda, talibãs e, mais tarde, o Estado Islâmico.

Havia numerosos de radicais islâmicos nas grandes capitais do mundo desenvolvido, em Londres, Madri, Paris, Bruxelas. Ninguém até hoje se sente seguro.

Mais na frente os extremistas radicais ditos de direitas, os “Messias” tomam literalmente o poder. Volta a fome, o desemprego, a animosidade é uma constante.

Para ser sumário e sem querer fazer julgamentos, apenas uma leitura rápida da realidade, não me envergonharei se tiver que mudar essa minha opinião, mais na frente:

  • Uma pandemia mudou o mundo. Reuniu pessoas, comunidades e nações, mas também as separou.
  • Ela mostra do que os humanos são capazes: o lado positivo e negativo da força.

Novamente a natureza contraditória aparece, e agora, vejo não ser coisa somente do adicito. Ou seríamos todos adictos? Onde está a natureza exata de nossos defeitos?

É preciso voltar ao exame. É preciso buscar conhecer mais e deixar a inércia e sair do quarto escuro.

Quero aproveitar ainda mais o dia de hoje, não vou deixar-lo terminar sem que eu tenha crescido um pouco, sem ter tido ao menos um flash de felicidade. Não vou me deixar vencer pelo desalento.

Hoje, em recuperação, sei que não posso estabelecer metas que vão além de minhas fontes. Preciso reconhecer meu tamanho e meus limites para não gerar um estresse desnecessário e até uma depressão por não conseguir atingir os objetivos e os objetivos que eu mesmo impulso. No entanto, para encontrar um interior de paz, é importante estar ciente de minhas corte e meus recursos.

Venho aprendendo, que o caminho verdadeiro tem que começar a partir de mim mesmo. Antes de mudar o que não gosto no mundo, mudo primeiro o que não gosto em mim.

Certa vez, estava eu ​​em estado profundo de depressão, quando minha mãe, que já não sabia mais o que fazer, adentrou o meu quarto escuro me chamando, por volta das cinco horas da manhã com um ovo quente enrolado em um pano em uma das mãos e uma colher de chá na outra:

- Meu filho! Juninho! Acorde! Acorde!

Eu a ouvi e abri meus olhos ...

- Toma, segura ...

Ela me deu o ovo quente enrolado em um pano, colher e foi abrir uma janela.

- Meu filho, por favor, pelo amor de Deus se alimenta, levanta e vir andar com sua mãe, ela não aguenta mais sofrer ...

Essa expressão, ela havia me ensinado ser uma palavra de Jesus: “ Levanta-te toma o teu leito e anda.”, Que é o mesmo que reconhecer o nosso potencial para mudar as circunstâncias em que nos achamos, não importa quão graves sejam.

Naquela manhã, após um longo período de isolamento de ressentimento, raiva, rancor e medo, eu me ajeitei na cama, me alimentei do ovo quente, joguei água em minha cara, calcei um tênis e percorri com ela milhas alguns no bairro que morávamos na época. Isso se repetiu por alguns dias e me tirou de uma situação muito difícil.

Quanto devo a minha mãe? Quanto pude fazer e não fiz a ela? Mas ela nunca me cobrou.

Acredito que a força superior, também, é assim, nunca irá me cobrar nada, sempre estará aqui para me auxiliar a levantar e andar.Deus é amor, não vai perder o seu tempo julgando, é o dono do tempo.

É claro que os espinhos que plantei eu irei colher, mas sempre me lembro, que até mesmo a mais bela das flores tem seus espinhos, mesmo assim não aparenta sofrimento algum, muito pelo contrário, é só beleza.

Só por hoje, quero reconhecer cada pessoa que eu prejudiquei, nem que seja em oração. Quero que o meu poder superior saiba o quanto elas me ajudaram e ainda me ajudaram.

Não sei se devo ou posso pedir perdão, mas vou fazer o melhor de mim hoje, como se estivesse fazendo para cada pessoa que eu prejudiquei.

E quando for prejudicado por alguém, me lembrarei de que não tenho o direito de reclamar. Lembrarei das palavras mestre: “Aquele que não tiver pecado, que atire a primeira pedra”.

Só por hoje: eu não usei e não vou usar!

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Natalino Molaes
Escritor, publicitário, redator, roteirista de comerciais e concept para planejamento publicitário
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