Calou-se uma voz que nos representava
Lá se vão três tristes anos sem Boechat
Antes de me deitar, lá pela meia-noite e vinte , li um texto da esposa do Ricardo Boechat, Veruska seibel boechat, relembrando que, 11 de fevereiro, faz 3 anos que ele se foi. Um texto tocante e muito bonito. Não poderia ser diferente.
No texto, ela descreve uma situação vivida ao lado do marido, para que pudéssemos ter a dimensão do tipo de ser humano que ele era. Os dois iam jantar fora e ele parou o carro quando viu um morador de rua caído no meio-fio. Boechat desceu do carro e retirou o homem de lá, porque poderia ser atropelado, e seguiu seu destino.
Sinto falta de gentilezas e humanidade como a que ela descreveu. E ela diz que essa foi uma entre tantas vezes em que ele foi um cara legal.
As vozes, gestos, ações, palavras que vemos de uns tempos pra cá destoam tanto de atitudes assim, que me pergunto: Será verdade? Tem gente assim ainda? Onde andam? Cadê o povo da luz? Onde foram parar a nobreza, a bravura, a indignação efetiva, a reação na medida, baseadas na razão e no senso comum de que algumas coisas são intoleráveis e portanto, descabidas num mundo mais justo? Onde?
Confesso que é cansativo. Não há "namastê" e "axé", "Deus nos livre", ou "shalom", que dêem conta de tanta falta de caráter e de tanta desumanidade.
Tenho comigo minhas teorias. Não do "por quê", mas do "pra quê" tudo isso. E até encontro respostas que as guardo pra mim, pois não são matéria neste novo mundo virtual, onde tudo se baseia no imediatismo, na opinião rasa sobre qualquer assunto, que tem que ser dada ( quem disse?). E caso não seja dada, se perde o bonde. Bonde que veio do nada e segue pra lugar nenhum. Enfim, este mundo das redes virtuais surgiu como um terreno impróprio para teorias mais profundas e que façam pensar.
Voltando ao Boechat, que falta faz esta voz que nos represente. Que nos lave a alma com esfregão duro, que nos faça enfrentar um novo dia. Sem estas vozes, nossa vida vira deserto sem perspectiva de oásis, beco sem saída, uma nau sem rumo.
Esperança ainda tenho. Teimo em andar de braço dado com ela. Puxo conversa, quando ela emudece. Agarro na mão, quando acho que tudo se perdeu. E ela sempre corresponde. E é ela que me sustenta.
Quando os bons deixam de caminhar pela face da Terra é preciso sempre relembrar e passar adiante quem eles foram e o que fizeram. Porque assim eles nunca morrem. Deixam herança para todos. Dividem o patrimônio que conquistaram com muitos. E com isso, deixam sua assinatura em tudo.
Salve! Salve! Boechat!
Aqui, nós seguimos tocando o barco...
*Sobre a autora: Martha Felizatti é artista, pintora e restauradora, formada em publicidade e propaganda de São Bernardo do Campo - SP.