Por uma nova Cultura da Água!

No Dia Mundial da Água, poucos são os motivos a se comemorar.

22 de março de 2021
atualizada em 22 de julho de 2021
Rio Santa Maria do Doce, distrito de São João de Petrópolis, Santa Teresa - ES
Rio Santa Maria do Doce, distrito de São João de Petrópolis, Santa Teresa - ES

No Dia Mundial da Água, poucos são os motivos a se comemorar. Causa de disputas, doenças e mortes, as consequências de uma gestão mercantilizada da água e seu uso político indevido em todo mundo, têm acabado com a possibilidade da prosperidade hídrica do planeta terra.

O Relatório da WaterAid: Beneath the Surface: The State of the World's Water 2019, aponta para numerosos problemas socioambientais sobre a temática da água. Estima-se que em todo o mundo, cerca de 4 bilhões de pessoas vivem em áreas com escassez de água e 844 milhões não têm acesso a água potável perto de casa, além de indicar crescentes conflitos pela água em 45 países.

Os dados e as nossas próprias vivências têm demonstrado que estamos no caminho errado. O acúmulo de água nas mãos de poucos é um problema gravíssimo, que ainda não tem sido enfrentado. A mercantilização perpassa o nosso dia a dia, e somos incapazes de perceber essas mensagens que subliminarmente estão presentes nos produtos das multinacionais que consumimos. Estão comprando e privatizando a água nos diversos países. Com entendimento de cenários e perspectivas internacionais, reconhecem o quanto esse bem natural pode se tornar cada vez mais rentável em detrimento da grande população que se tornará dependente dessas empresas e suas águas engarrafadas.

Segundo a ONU, em 2030 teremos 40% a menos de água disponível para consumo humano. Além, é claro, da reflexão geopolítica que incluiu a água na Bolsa de Valores, como se fosse mercadoria, bem como a colocou como elemento central das próximas disputas bélicas.

Se engana quem pensa que os problemas com relação ao acesso e a distribuição da água seja coisa de países da África. Quero evidenciar que a nossa região, em especial o município de Santa Teresa no Espírito Santo, já enfrentou e tem de cuidar com relação a escassez da água. Não é de hoje que alerto sobre esse problema em nossa cidade. Nos últimos dois anos, tivemos mais de 100 denúncias relativas a construções e exploração de áreas na zona rural de forma clandestina e irregular.

O irregular uso e ocupação do solo, atrelado ao desmatamento, aterros a áreas de nascentes e a destruição dos topos de morros, nos levarão a um colapso na oferta de água muito brevemente. A conta é simples, meu povo, quando maior a demanda de água é menor quantidade da mesma. Uma hora ela vai faltar de vez! Existem ainda aqueles que acham que as barragens e os poços artesianos são a nossa salvação, esquecem, pois, que barragens sem nascentes recuperadas de nada valem e que as águas nos lençóis freáticos são finitas. De tanto poços, uma hora ela acaba!

Dizer não a mecanização hídrica é construir uma nova Cultura da Água e aprender com os Povos Originários que a água é um bem comum. Ela é vida e parte de todos os seres vivos do planeta. Ninguém sobrevive sem água e por isso ela nunca deve ser negada a ninguém. Água é direito e preservar é dever de todos!

Quando se escreve água é preciso ler democracia e, portanto, temos o compromisso de assumirmos a defesa da sobrevivência planetária, da democratização da água e do cuidado sistêmico com todo meio ambiente.

Assim sendo, a Ecologia Integral precisa ser assimilada por todos como a única forma de continuar garantindo o pacto intergeracional para que o nosso futuro e das próximas gerações seja possível.

Que nesse Dia Mundial da Água, saibamos assumir o cuidado com a nossa Casa Comum. Água é Direito, não mercadoria! Rumo a uma Nova Cultura da Água!

imagem de
João Paulo Angeli
Educador ambiental, socioambientalista, ativista climático, produtor cultural, Jovem Líder Carta da Terra Internacional. Compõe o Observatório dos ODS e diversos Movimentos Sociais e Eclesiais.
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