Deslizamento de pedra e interdição de casa expõe perigo das mudanças climáticas em Santa Teresa

Pedra rolada durante sequência de temporais em novembro passado está sendo quebrada aos poucos para moradora do Jardim da Montanha poder voltar para casa

18 de março de 2022
atualizada em 18 de março de 2022
A pedra, que agora está sendo quebrada em pedaços menores, rolou na mata e só não atingiu casa por conta das árvores. Foto: Reprodução de vídeo/Oswald Cruz
A pedra, que agora está sendo quebrada em pedaços menores, rolou na mata e só não atingiu casa por conta das árvores. Foto: Reprodução de vídeo/Oswald Cruz

Montanhas desgatam naturalmente. Pedras quebram, solo desprende e o material desce. Mas com as mudanças climáticas turbinando tempestades e outros eventos meteorológicos extremos, deslizamentos podem ser mais frequentes, aponta estudo desenvolvido em 2016 pelos pesquisadores Gariano, S. L., & Guzzetti, F. publicado na revista Earth-Science Reviews.

E o que ocorreu numa área preservada de floresta no bairro Jardim da Montanha em Santa Teresa (ES) é amostra da vulnerabilidade à qual está exposta populações de terrenos acidentados. Durante sequência de temporais, em novembro do ano passado, uma pedra gigante se soltou e rolou encosta abaixo. Por pouco não atingiu residências próximas. Um dos imóveis segue interditado pela Defesa Civil até hoje.

Veja o vídeo produzido pelo Convergente News na última semana.

Segundo a Prefeitura de Santa Teresa, em nota enviada na última quinta-feira (17) ao Convergente News, a rocha está sendo quebrada em partes menores para acabar com o risco. A medida foi uma orientação da Defesa Civil Estadual. A ação está sendo realizada pela moradora da casa que fica abaixo. Ela apresentou ao poder público a ART (Anotação de Responsabilidade Técnica) do engenheiro responsável pelo desmonte da pedra.

A Prefeitura acrescentou que tão logo o serviço seja concluído, a Defesa Civil vistoriará novamente a residência para saber se poderá ser desinterditada.

Outras casas perto do incidente

Ainda, segundo a Prefeitura, na ocasião do deslizamento os moradores de outras quatro casas foram notificados dos riscos pela Defesa Civil Municipal. No entanto, não foi necessário que saíssem dos imóveis.

Exemplo da região serrana do Rio de Janeiro

A tragédia do último dia 15 de fevereiro em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, matou 217 pessoas e deixou um rastro de destruição que redundou em R$ 665 milhões em prejuízo àquela cidade. Em janeiro de 2011 já havia ocorrido tragédia ainda maior, com 918 mortos em deslizamentos e enchentes nas cidades de Nova Friburgo, Petrópolis, Teresópolis, Sumidouro e São José do Vale do Rio Preto.

Petrópolis com aproximadamente 306 mil moradores (Estimativa do IBGE), Nova Friburgo com 191 mil moradores e Teresópolis com 184 mil são cidades maiores, com expressiva mancha urbana e ocupações desordenadas de encostas. Diferente de Santa Teresa (ES), com seus 28 mil moradores, a maioria fora da sede, que se aproxima à 10 mil habitantes.

O fato de Santa Teresa ser bem menor que suas co-irmãs do Rio de Janeiro, reduz a possibilidade de deslizamentos redundarem em grandes tragédias humanitárias. Porém a expansão urbana no entorno da sede e o crescimento desordenado de sítios e chácaras nas zonas rurais mais valorizadas, como Caravaggio, Aparecidinha, Alto Santo Antônio, Valão de São Pedro, Penha e Estrada do Imigrante – muitas delas em encostas, pode potencializar esses riscos. Claro, caso não haja projetos bem adaptados às condições do terreno e considerando que as chuvas tendem a ficar mais fortes. Até porque não há sinais de que o aquecimento global, motor das mudanças climáticas, irá recuar.

 

imagem de
Bruno Lyra
Jornalista especializado em coberturas ambientais e professor de geografia
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