Mata Atlântica é destruída com trator no centro de Domingos Martins

Assim como em Santa Teresa, cidade das montanhas capixabas vêm registrando aumento expressivo da degradação ambiental nos últimos anos

6 de maio de 2022
atualizada em 11 de maio de 2022
Onde havia mata, sobrou somente solo exposto após o trator passar em encosta vizinha ao centro da cidade. Foto: Divulgação leitor - 02/05/22
Onde havia mata, sobrou somente solo exposto após o trator passar em encosta vizinha ao centro da cidade. Foto: Divulgação leitor - 02/05/22

Está tão escancarada a destruição ambiental, que nem a floresta da cidade mais visitada das montanhas capixabas, Domingos Martins, é poupada. Na última segunda feira (02) um trator do tipo escavadeira de esteira derrubava a Mata Atlântica localizada no final da rua Carlos Germano Schwambach.

O mais impressionante é que a cena podia ser vista da movimentada praça da cidade. Sob a condição de não ter o nome divulgado, um morador que flagrou a cena, disse ter ido até as proximidades do local onde ocorria a derrubada. Ao chegar lá, encontrou uma porteira fechada, que impedia a entrada na área. E afirmou não ter visto nenhuma placa de autorização para o corte.

O desmate deixou totalmente exposto o solo da encosta. E além de impacto na paisagem da “Cidade do Verde” – apelido dado à Domingos Martins por conta das florestas que a rodeia – também tem desdobramentos negativos para o rio que abastece o maior número de moradores no ES, o Jucu.

Isto porque o centro de Domingos Martins é banhado pelo córrego do Gordo, afluente da margem direita do Braço Norte do rio Jucu, estanto inclusive à montante da represa que a Cesan construirá na serra da Vista Linda para melhorar a segurança hídrica do Espírito Santo. Em outras palavras, as águas que drenam o centro de Campinho (outro apelido dado à sede de Domingos Martins) ajudarão a formar a futura represa.

Além de abastecer Domingos Martins, Marechal Floriano e parte de Viana, incluindo aí o atendimento às necessidade de irrigação da produção de alimentos neste que é um dos cinturões de alimentos frescos da Grande Vitória, o rio Jucu atende aos moradores de Vila Velha, Caricica e Vitória. São mais de 1 milhão pessoas que dependem das águas deste rio.

Epidemia’ de desmatamento nas montanhas do ES

A região serrana é a que mais possui cobertura de Mata Atlântica no ES. Porém o que se vê nos últimos anos é um descontrole do desmatamento, muitas vezes acompanhados da destruição de nascentes, margens, córregos e rios. E boa parte dos casos, para antender ao aquecido mercado imobiliário de sítios, chácaras, lotes e condomínios rurais. Problema que afeta principalmente Domingos Martins, Marechal Floriano e Santa Teresa, mas também já ocorre nas partes altas de Viana, Guarapari, Alfredo Chaves, Fundão, Santa Leopoldina e Santa Maria de Jetibá.

Não dá para afirmar se o desmate no centro de Domingos Martins, citado na matéria, está sendo feito para fins de loteamento, uma vez que a prefeitura local ainda não deu qualquer informação sobre o caso. Mas a situação já está gerando reações de ativistas ambientais e lideranças políticas.

Polícia Ambiental acionada por deputado

O deputado estadual Sérgio Majesky (PSDB) enviou, na última quarta feira (04), ofício ao comando da Polícia Ambiental para que averigue a denúncia feita pelos moradores de Domingos Martins.

Majesky, que também é geógrafo, tem levantado a preocupação com aumento do desmate nas montanhas capixabas e o avanço desordenado de condomínios, sítios, chacreamentos e loteamentos.

Da ONG Juntos SOS ES Ambiental, Eraylron Moreschi, lamenta o que está acontecendo na região serrana do estado.

O desmatamento, parcelamento irregular do solo e intervenções indevidas em áreas de preservação ambiental estão colocando em risco fauna e flora, incluisive de espécies ameçadas de extinção. Tudo isso porque a sociedade está fazendo a opção pelo desenvolvimento a qualquer custo, sem pensar no meio ambiente”, pontua.

Eraylton alerta para os efeitos negativos, inclusive econômicos e humanitários, se não houver controle e critério na ocupação de áreas na região serrana.

Esses lugares correrão riscos de desastres em áreas inclinadas. Ainda mais que já estamos vivendo as mudanças climáticas. Olhe o exemplo do que vem acontecendo nas montanhas do Rio de Janeiro”, lembra.

O ativista ressalta, ainda, o impacto nas nascentes, córregos e rios, o que afeta a quantidade e qualidade das águas usadas na produção de alimentos da agricultura e no abastecimento das comunidades urbanas.

É lastimável que o cidadão da serra capixaba, como o de Domingos Martins, Santa Teresa, Santa Leopoldina e Marechal Floriano, estejam aceitando tudo isso”, critica.

Estado e Prefeitura

Foram procurados o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf), Instituto Estadual de Meio Ambiente e Reucursos Hídricos (Iema) e Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Domingos Martins.

Ainda na sexta-feira (06), o Iema e o Idaf se pronunciaram. Através da assessoria de imprensa, o Iema informou que o caso deveria ser tratado junto ao Idaf, que é o reponsável por tratar de autorizações para desmate.

Em email enviado pela assessoria de imprensa, o Idaf disse que o desmate foi autorizado pelo órgão e também conta com anuência da prefeitura local. Veja a íntegra da resposta.

O Idaf informa que, em outubro de 2021, autorizou a supressão florestal em questão. Trata-se de área urbana, com anuência municipal. O local não integra Área de Preservação Permanente (APP) e a área era coberta por vegetação nativa em estágio inicial de regeneração, portanto, legalmente passível de autorização.

Já a Secretaria de Meio Ambiente de Domingos Martins, até o momento da atualização dessa reportagem nesta quarta-feira (11), ainda não havia se pronunciado.  

imagem de
Bruno Lyra
Jornalista especializado em coberturas ambientais e professor de geografia
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