Devastação ambiental em Santa Teresa: ‘Filme’ do Caravaggio se repete em outras localidades
Vídeos feitos em Alto Santo Antônio, Valsugana Velha, Penha, Tabocas e Santa Lúcia mostram desmatamento e impactos em nascentes de importantes rios capixabas que nascem no município
Alto Santo Antônio, Penha e Valsugana Velha também viraram alvo de parcelamento de áreas rurais, com derrubada da mata Atlântica, nascentes reviradas com trator e exposição do solo à erosão. Situação que já acontece em larga escala no Caravaggio, principal circuito turístico de Santa Teresa no Espírito Santo.
Nos últimos dia 25 e 26 de abril, Convergente esteve nas três primeiras localidades e constatou a existência de obras voltadas para atender a demanda do mercado de sítios, chácaras, loteamentos e condomínios rurais, com expressivo impacto ambiental.
Em Alto Santo Antônio, constatou duas situações. Em uma delas, os impactos estão acontecendo numa encosta na margem direita da estrada que liga o Centro à Alto Santo Antônio. Ali o solo está esposto com erosão cavando o terreno e levando terra para a estrada e para o córrego que atravessa o local. Também, houve derrubada de árvores da Mata Atlântica nas bordas da floresta que ainda está em pé por ali.
Na segunda situação, desta vez na margem esquerda da estrada (sentido Centro x Alto Santo Antônio), os impactos são ainda maiores. Isto, porque os responsáveis atingiram nascentes e deixaram exposto o solo às margens do lago artificial que fizeram numa das nascentes do rio Cinco de Novembro, afluente do Santa Maria do Rio Doce.
Neste caso há uma placa indicando dispensa de licenciamento ambiental emitida pelo IDAF (Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do ES) e anuência prévia emitida pelo município. Diversos platores também foram abertos nesta propriedade.
Em Valsugana Velha, na estrada para Alto Paraíso, há desmatamento, exposição de nascentes e construção de platores. Este caso, inclusive, já foi alvo de ação da Polícia Ambiental e do IDAF, que constataram irregularides, autuaram e multaram o reponsável. Ali o impacto foi em um dos afluentes do rio Timbuí formador do Reis Magos, que abastece Serra Sede e entorno na Grande Vitória.
Na Penha a degradação ocorre às margens da ES 261, perto do radar. Ao lado esquerdo da estrada, sentido Santa Teresa x Fundão. Houve interveções às margens do córrego, que inclusive está com solo exposto na Área de Preservação Permanente (APP). Platores também estão sendo escavados onde havia remanscentes de mata Atlântica. Como no caso de Valsugana Velha, o impacto ocorre também na bacia do rio Timbuí.
Santa Lúcia e Vale das Tabocas
Nos mesmos dias, o Convergente também constatou destruição ambiental em Santa Lúcia e na parte alta da estrada que dá acesso ao Vale do Tabocas. No caso de Santa Lúcia, houve desmatamento num terreno localizado cerca de 2 km da pousada Estância de La Fontella. Estrago que, assim como os casos de Valsugana Velha e Penha, também afeta o rio Timbuí/Reis Magos.
Em Tabocas, por sua vez, diversos platores foram abertos no que, aparentemente, já era uma área com a floresta derrubada anterioremente. Aqui o impacto é no rio Tabocas, um dos formadores do Santa Maria do Rio Doce.
Órgãos ambientais calados
A reportagem pediu um posicionamento dos órgãos estaduais de proteção ambiental e da Prefeitura de Santa Teresa, através da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Forneceu, inclusive, a localização georeferenciada dos casos.
O Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA), foi o único que se manifestou. Mesmo assim, dizendo que a reponsabilidade é do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do ES (IDAF) e da Prefeitura de Santa Teresa. O IEMA tem dado essa resposta, sempre quando questionado sobre a situação de desmatamento nas montanhas capixabas para parcelamento do solo rural em sítios, lotes, chácaras e condomínios.
Como tem ocorrido em outros casos reportados pelo Convergente, a Prefeitura de Santa Teresa não respondeu a demanda.
O IDAF ainda não se manifestou sobre os casos citados nessa reportagem. Porém, no final de abril, informou ao Convergente que em um ano e meio emitiu 144 autos de infração em Santa Teresa por crimes ambientais. A maioria deles ligados ao parcelamento do solo rural para venda de sítios, chácaras, lotes e implantação de condomínios. O órgão prometeu, inclusive, fazer novos sobrevoôs de helicóptero em Santa Teresa diante do aumento de casos de degradação ambiental.
Reações
O avanço da destruição ambiental em Santa Teresa e noutros municípios das montanhas capixabas gerou reações da sociedade civil. Uma delas da ONG Juntos SOS ES Ambiental, que têm levado, através de seu diretor Eraylton Moreschi, denúncias ao Minstério Público.
O deputado estadual Sérgio Majeski (PSDB), também tem levado os casos para a Polícia Militar Ambiental, para que apure in loco a situação.
O ativista Claudiney Rocha, do Instituto Brasileiro de Fauna e Flora (IBRAFF), alerta para perda da biodiversidade e desaparecimento de espécies ameaçadas, que dependem de corredores ecológicos formados pelos fragmentos florestais. Claudiney alerta também para a falta d’água, uma vez que as agressões estão destruindo nascentes de rios que abastecem a Grande Vitória, como o Reis Magos, Santa Maria da Vitória e o Jucu.
As reações não param por aí. Um grupo de moradores e ativistas de Domingos Martins está fazendo um abaixo-assinado on line pedindo providências às autoridades, quanto ao aumento do desmatamento ligados ao mercado imobiliário de sítios e chácaras nas montanhas capixabas. Até a noite da última sexta-feira (13), o documento já reunia 8.553 assinaturas. A intenção do grupo é entregar o documento ao Ministério Público e demais às autoridades ambientais.
O grupo, também, espalhou outdoors pela Grande Vitória e Domingos Martins denunciando a explosão de casos de desmatamento da mata Atlântica nos últimos dois anos no Espírito Santo.