Prefeitura celebra o dia da Mata Atlântica nas redes sociais, mas permite devastação da floresta

Deixe um legado de desenvolvimento sustentável e não ruínas de um caos trazidas por noção de progresso que faz enriquecer meia dúzia e estraga o planeta de todos

Carmem Barcellos e Bruno Lyra
27 de maio de 2022
atualizada em 27 de maio de 2022
Campylocentrum pachyrrhizum - orquídea de fita fotografada na Mata Atlântica em Santa Teresa - ES . Foto: Carmem Barcellos
Campylocentrum pachyrrhizum - orquídea de fita fotografada na Mata Atlântica em Santa Teresa - ES . Foto: Carmem Barcellos

Hoje (27) é o Dia Nacional da Mata Atlântica e a Prefeitura fez, em sua conta numa rede social, postagem alusiva à data. No texto, diz que a “data é para conscientizar a população em geral e recuperar a Mata Atlântica brasileira”.

Postagem corretíssima. Santa Teresa (ES) deve, em grande medida, à floresta que ainda existe em seu território, o bem estar da sua população, a produção agrícola, o turismo e outros encantos que fazem esta pequena cidade encravada na ponta norte da Mantiqueira, nas montanhas capixabas, uma dádiva. Terra que deu vez ao patrono nacional da ecologia, o cientista mundialmente renomado Augusto Ruschi.

Mas, a Prefeitura simplesmente omite o fato de que nos últimos anos a Mata Atlântica em seu território vêm sendo devastada de forma indiscriminada e muito acelarada. Principalmente para dar lugar à empreendimentos imobiliários de sítios, chácaras, lotes e condomínios em áreas rurais. Tudo de forma escancarada e levando muitos tetesenses a ficarem incrédulos e indignados com tamanha omissão. Nesse sentido, a postagem soa hipócrita. Isto porque não é raro encontrar em frente a esses empreendimento imobiliários placas informando que a própria prefeitura é autora de autorização ou da dipensa de licenciamento para tais obras, cuja fase de terraplanagem ocorre sob a alcunha de “movimentação de terra para fins agropecuários”.

E o pior, desde abril o Convergente vem fazendo reportagens mostrando a devastação da Mata Atlântica e destruição de nascentes – inclusive das que abastecem a cidade - com uso de trator no Caravaggio, Penha, Valsugana Velha, Alto Santo Antônio, dentre outras localidades. E vem sendo ignorada em todas as vezes que pede uma posição da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e do Prefeito Kléber Médici sobre os fatos.

Não é só isso. Recentemente a Prefeitura convidou empresários do ramo imobiliário, corretores, donos e operadores de máquina para uma reunião. Convergente pediu à Prefeitura para participar e foi impedido. Aonde está a transperência sobre os atos públicos? Não é nada republicana a atitude do executivo municipal de se esconder diante de situações tão graves à vista de todos.

A destruição acelerada da Mata Atlântica em Santa Teresa já é fato notório em todo o Espírito Santo. Inclusive deflagrou a operação Curupira da Polícia Ambiental em parceria com o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do ES (IDAF). A operação seguem em curso e já flagrou crimes ambientais no município e também em Domingos Martins e Marechal Floriano, que enfrentam situações semelhantes.

O próprio IDAF, em abril, revelou que lavrou 144 autos de infração em Santa Teresa desde dezembro de 2020 por crimes ambientais. Boa parte deles ligados aos referidos projetos imobiliários.

Senhor Prefeito Kléber Médice, a Mata Atlântica precisa muito mais do que homenagem. Necessita de políticas públicas que efetivem sua proteção. Demanda que o senhor use a prerrogativa do cargo para fazer valer as leis e inste todos os órgão de proteção ambiental a se unirem e promoverem verdadeira proteção da Mata Atlântica e seu ecossistema. Aja e deixe um legado de desenvolvimento sustentável e não ruínas de um caos trazidas por noção de progresso que faz enriquecer meia dúzia e estraga o planeta de todos. Ainda é tempo.

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