Combate à destruição ambiental em Santa Teresa será permamente, promete Casagrande

Declaração foi dada ao Convergente nesta sexta (03) durante lançamento do edital para pavimentação do Caravaggio e outros investimentos em Santa Teresa

4 de junho de 2022
atualizada em 6 de agosto de 2022
O governador Renato Casagrande promete manter a Operação Curupira. Ao lado, destruição ambiental no Caravaggio. Fotos: Governo do ES/Arquivo Convergente
O governador Renato Casagrande promete manter a Operação Curupira. Ao lado, destruição ambiental no Caravaggio. Fotos: Governo do ES/Arquivo Convergente

A Operação Curupira, que envolve Polícia Ambiental, Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do ES e Ministério Público para combater desmatamento, parcelamento desordenado de áreas rurais, destruição de margens de rios e nascentes, irá continuar de forma permanente em Santa Teresa no Espírito Santo.

Foi o que afirmou na última sexta-feira (03) o governador Renato Casagrande (PSB), em entrevista ao Convergente. A declaração foi dada logo após a solenidade ocorrida no auditório do Senac onde o governador assinou a ordem para o lançamento dos editais para a pavimentação das estradas do circuito turístico do Caravaggio e do trecho entre as localidades de 25 de Julho e 25 de Agosto, além de outros investimentos em esporte e educação (veja em detalhamento dos investimentos ao final da matéria).

Confira a íntegra do que disse o governador.

Convergente : Como conciliar o desenvolvimento econômico gerado pelo mercado imobiliário voltado para sítio, chácaras e condominios rurais, com a preservação ambiental em Santa Teresa?

Casagrande: Com fiscalização. Com responsabilidade. Com gente que quer o bem de Santa Teresa, que vai preservar Santa Teresa. Quem não quer o bem de Santa Teresa, não vai preservar Santa Teresa. Quem quer só o bem pessoal, individual, imediato e momentâneo não vai preservar os recursos naturais. Então, assim, o governo do Estado e a Prefeitura e a sociedade tem que fiscalizar para poder controlar os que querem destruir os nossos recursos naturais. É possível conciliar, naturalmente, que Santa Teresa só tem presente e futuro com a preservação dos recursos naturais. Não tem outro caminho para Santa Teresa.

Convergente: A Operação Curupira continua no município?

Casagrande : Continua, com IDAF (Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal), Ministério Público e Polícia Ambiental. Continua permanentemente com trabalho aqui em Santa Teresa.

Sítios, chácaras, condomínios rurais, desmatamentos e degradação de APP´s

Santa Teresa, vive um ‘boom’ de parcelamento e vendas de áreas rurais em sítios, chácaras, lotes e condomínios. Assim como ocorre noutras cidades das montanhas capixabas, como Domingos Martins e Marechal Floriano.

Na esteira desse fenômeno, à despeito do inegável crescimento econômico que gera para alguns setores, tem havido intensa degradação ambiental. Seja em projetos autorizados pelo pelo município e/ou estado, seja em obras clandestinas. Desmatamento da Mata Atlântica, uso de trator para transformar nascentes e brejos em lagos artificiais, assoreamento de rios, exposição de encostas e aberturas de platôs estão entre os principais efeitos.

Tanto, que nos últimos anos houve aumento exponencial da perda de cobertura de Mata Atlântica no ES, floresta cujos remanescentes se encontram exatamente nas montanhas. Fato que tem gerado reações, como a própria Operação Curupira, denúncias do deputado Estadual Sérgio Majeski (PSDB) e até abaixo-assinado virtual feito pela socidede civil contra o desmatamento nas montanhas.

Caravaggio no olho do furacão

Em Santa Teresa a degradação mais intensa e visível  ocorre exatamente no circuito turístico Rota do Caravaggio, que está sendo contemplada pela pavimentação da estrada. Chama a atenção o fato do projeto da pavimentação estar sendo bancada por um pool de empresários ligados ao mercado imobiliário de lá. Vale lembrar o custo da execução do mesmo, cerca de R$ 14 milhões, será bancado com recursos públicos do Estado.

Na solenidade de sexta-feira, o prefeito de Santa Teresa, Kléber Médici (PSDB), ressaltou a colaboração dos empresários em custear o projeto da pavimentação do Caravaggio. Disse que a Prefeitura até poderia ter feito o projeto, mas que não haveria tempo hábil para realizá-lo no prazo para encaixar no edital lançado pelo Estado.

E entre os agradecimentos às lideranças políticas presentes, Kléber destacou um empresário influente do mercado imobliário teresense: Élcio Thomazini.

A reportagem tentou conversar com Élcio para que avaliasse o desafio do mercado imobiliário local em conciliar a preservação da floresta com a expansão em sítios, chácaras e condomínios ruriais. Porém, Thomazini não quis falar.

Impacto em outras regiões teresenses

Alto Santo Antônio, Santo Anselmo, Valsugana Velha, Penha, Valão de São Pedro, Alto São Lourenço, dentre outras, estão entre as localidades em que a corrida imobiliária vem provocando impactos ambiantais expressivos. Em comum, o fato dessas áreas estarem na porção alta do município, que tem clima mais fresco.

Nelas, também, estão os trechos mais preservado de florestas. E é onde ficam nascentes de rios que abastecem a Grande Vitória (Reis Magos e Santa Maria da Vitória) e São Roque (Santa Maria do Rio Doce). Alías, este último também é imprescindível para atender a intensa produção de alimentos na porção baixa do município, em localidades como Várzea Alegre, Santo Antônio do Canaã e Barracão de Petrópolis. Porção em que o avanço da desertificação tem intensificado o conflito pelo uso da água em tempos de estiagem.

Deputado Foletto destoa, denuncia devastação e risco à economia do turismo

Em meio ao clima de celebração da solenidade de ontem – justificado pelo fato de serem investimento relevantes para a cidade – a fala de uma liderança destoou. E ela veio de um dos principais aliados históricos do governador Renato Casagrande: o deputado federal Paulo Foleto (PSB).

O deputado não deixou de elogiar os investimentos. Mas alertou que não se pode negar as agressões ambientais em Santa Teresa. Contou ainda, que por conta disto, tempos atrás, o então prefeito Gílson Amaro (morto em 2021) havia entrado em contato, mesmo sendo de palanques diferentes, para pedir ajuda em relação a destruição ambiental em Santa Teresa. 

Vale lembrar que no fim do último mandato de Gílson, em dezembro de 2020, o então prefeito denunciou publicamente o descontrole dos impactos ambientais relacionados à expansão imobiliária no Caravaggio. Fato amplamente noticiado pela imprensa capixaba, inclusive televisiva.

Folleto ainda aconselhou o atual prefeito Kléber Médici a pedir ajuda ao Minstério Público, Idaf e demais orgãos diante do agravamento do cenário.

É ir para cima de quem está estragando [o meio ambiente], porque o preço que se paga será o esvaziamento do turismo daqui a 10 anos. Vamos perder esse charme, essa característica, e a gente não quer isso”, frisou o deputado.

Prefeito diz que Munípio está conseguindo conciliar desenvolvimento com preservação

Logo após a solenidade, o prefeito Kléber Médici conversou com a reportagem. Indagado sobre o desafio de conciliar a demanda por sítios, chácaras e condomínios nas áreas rurais com a preservação ambiental, Kléber defendeu a expansão do setor imobiliário, desde que respeite o PDM e a mata Atlântica que ainda cobre 32% do território teresense. O que, na visão dele, Santa Teresa está conseguindo fazer. Confira a íntegra da declaração de Kléber ao Convergente.

Convergente: Como conciliar o crescimento do mercado imobiliário em Santa Teresa, que é pujante, com a preservação ambiental?

Kléber Médici - O mais importante de tudo: quando você fala em desenvolvimento sustentável, é achar o que a gente pode fazer para alavancar a economia dentro de uma preservação ambiental necessária – e nós estamos preservando. E também observando o bem comum dentro da área social. Quando a gente fala nesse desenvolvimento a gente pode usar como exemplo o Caravaggio. Apesar das várias discussões o que a gente observa é o quê: se quiserem analisar o que é o desenvolvimento sustentável é necessário conhecer o sítio Canaã. Conhecer o condomínio da Caixa Econômica em Aparecidinha. Aquela forma de fazer, de manter preservado área com habitações é necessária.

Como se faz isso? Com planejemento, respeitando o PDM da cidade, respeitando a dignidade das pessoas e acreditando que é possível conciliar desenvolvimento e manter nosso ambiente preservado. Isso nós estamos fazendo em Santa Teresa e vamos continuar.

A questão da expansão imobiliária ela é necessária, mas, obviamente, respeitando todos os parques que nós temos e todos os 32% de mata Atlântica que ainda nós temos. E tenha certeza, todas as ações do nosso município são voltadas para este caminho.

Investimentos do Estado anunciados em clima de eleição e Jazz

O governador Renato Casagrande anunciou na solenidade desta sexta-feira (03) a publicação dos editais para novas obras do Programa Caminhos do Campo em Santa Teresa. Serão investidos mais de R$ 14 milhões nos dois trechos contemplados: Rota do Caravaggio, com 7,4 quilômetros de extensão, e 15 de Agosto x 25 de Julho, com 5,7 quilômetros. Na ocasião também foram anunciados outros em investimentos nas áreas de infraestrutura rural, educação e esportes no município.

Em clima de campanha, apesar de ainda não se declarar pré-candidato à reeleição, o governador visitou algumas comunidades rurais contempladas e à noite participou da abertura do Festival Internacional de Jazz e Bossa de Santa Teresa, evento financiado pela nova Lei de Incentivo à Cultura do ES.

imagem de
Bruno Lyra
Jornalista especializado em coberturas ambientais e professor de geografia
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