Passeio ciclístico celebra museu de Santa Teresa dedicado à Mata Atlântica

Atividade é gratuita, mas é preciso se inscrever. Veja link na matéria. Evento faz parte da programação da Festa do Imigrante e ocorre em momento difícil para a natureza e seus defensores.

23 de junho de 2022
atualizada em 23 de junho de 2022
Augusto Ruschi (1915-1986) fundou o Museu Mello Leitão e teve vida marcada por ciência e ativismo ambiental. Foto: Reprodução/Ufes
Augusto Ruschi (1915-1986) fundou o Museu Mello Leitão e teve vida marcada por ciência e ativismo ambiental. Foto: Reprodução/Ufes

Neste domingo (26) Santa Teresa, no Espírito Santo, recebe passeio ciclístico para celebrar o 73º aniversário do Museu de Biologia Professor Mello Leitão, instituição criada pelo cientista de renome internacional e ambientalista teresense Augusto Ruschi em 1949.

O passeio sairá às 8 horas do próprio museu, localizada na Sede do município, com trajeto de ida e volta até a Estação Biológica de Santa Lúcia, outro legado de Ruschi na luta pela preservação da floresta que originalmente já cobriu todo o ES e hoje não passa de 10% do território capixaba.

A participação é gratuita. Mas é preciso inscrição no formulário eletrônio neste link. O evento será realizado pelo Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), entidade responsável pelo Mello Leitão e que tem suas instalações no interior do mesmo.

O passeio faz parte, também, da programação da XXXI Festa do Imigrante Italiano, que marca a "Data do Reconhecimento do Município de Santa Teresa como Pioneiro da Imigração Italiana no Brasil". As informações são da assessoria de imprensa do INMA.

Celebração em momento difícil para a natureza e para defensores da mesma

Com território de mais de 600 km2 abrangendo parte das montanhas capixabas e terras do Vale do Rio Doce, Santa Teresa não é somente simbolo da imigração italiana. Mas também da luta pela preservação do meio ambiente.

Neste último caso, por ser terra natal de Ruschi. Homem que deixou na cidade imenso legado: o próprio Museu Mello Leitão e as reservas naturais, que ajudaram a Doce Terra dos Colibris - apelido de Santa Teresa - a se tornar uma das principais atrações turísticas do Espírito Santo e, mais recentemente, ser escolhida para sediar o INMA.

Mas, na frente ambiental, Santa Teresa vive um momento delicado. Em parte pelo desmonte das políticas nacionais de proteção ao meio ambiente tocadas pelo atual governo de Jair Bolsonaro (PL). E, também, pelo avanço do mercado imobiliário dedicado à transformação de propriedades rurais em sítios, chácaras e condomínios.

Tanto, que têm sido registrados em diversos pontos do município desmatamentos, intervenções em Áreas de Preservação Permanente (APPs), exposição de nascentes, córregos e encostas de morros à erosão. Exemplos disso não faltam no Circuito Caravaggio, Penha, Alto Santo Antônio, Alto São Lourenço, Valsugana Velha, Santa Lúcia, entre outras localidades.

Por isso o município é alvo da Operação Curupira, deflagrada em maio pela Polícia Ambiental e IDAF (Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do ES) para coibir práticas irregulares da ocupação do solo nas montanhas capixabas. Antes mesmo da deflagração da operação, o IDAF já havia confirmado ao Convergente que, em pouco mais de um ano, emitiu 144 autos de infração por crimes ambientais no município.

Segundo o prefeito Kléber Médici (PSDB), Santa Teresa ainda tem pouco mais de 30% de seu território coberto por Mata Atlântica.

Intimidação

Por conta de reportagens sobre destruição ambiental no município, a equipe de Convergente foi intimidada, no último dia 03 de junho, por empresários do setor imobiliário e pelo filho de uma liderança política local. O fato aconteceu no auditório do Senac, logo após a realização de uma solenidade pública sobre investimento do Estado no município. Solenidade que contou com a presença do governador Renato Casagrande (PSB), do prefeito Kléber Médici, vereadores, deputados federais e estaduais, dentre outras lideranças.

O caso ganhou repercussão e está sendo acompanhado pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, em Brasília.

Sobre o Museu Mello Leitão e Augusto Ruschi

Com informações da assessoria de imprensa do INMA

O nome do museu fundado por Rischi é homenagem ao zoólogo Cândido Firmino de Mello Leitão, a quem o ambientalista e cientista teresense devotava grande respeito, admiração e gratidão. Professor do Museu Nacional, Mello Leitão abriu as portas da instituição a Ruschi, onde o cientista exerceu parte de sua carreira.

O MBML detém importantes coleções científicas para os estudos da biodiversidade da Mata Atlântica. Atualmente, o MBML é uma unidade do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).

Um dos animais da Mata Atlântica a que Ruschi dedicou-se foi o beija-flor. Seus estudos tornaram a espécie Lophornis Magnifica conhecida no mundo inteiro. Símbolo do MBML, o beija-flor topetinho vermelho tornou-se também o símbolo de Santa Teresa, cidade situada na região serrana do Espírito Santo, no coração da Mata Atlântica.

A instituição criada por Augusto Ruschi, na propriedade doada por sua família, foi incorporada pela Fundação Nacional Pró-Memória (FNPM), da Secretaria da Cultura do Ministério da Educação e Cultura em 1983, concretizando a vontade do próprio Ruschi para garantir a continuidade de seu trabalho. Na nova vinculação, Ruschi foi seu primeiro diretor e permaneceu até sua morte em 3 de junho de 1986. Seu corpo foi sepultado, a pedido dele, na Estação Biológica de Santa Lúcia, em Santa Teresa, onde realizou parte de seus estudos. Em 2014 o MBML foi transferido para a estrutura do MCTI, com a criação do INMA.

Reconhecido pela UNESCO, o MBML é considerado um Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica em função de suas atividades nos campos da proteção da biodiversidade e do desenvolvimento do conhecimento científico sobre a Mata Atlântica. Os Postos Avançados são “vitrines” da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica realizando de forma permanente atividades de conservação, desenvolvimento sustentável e produção de conhecimento.

imagem de
Bruno Lyra
Jornalista especializado em coberturas ambientais e professor de geografia
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