Após denúncia de deputado, Polícia enquadra imobiliária por crime ambiental em Santa Teresa

Imobiliária Thomazini desmatou e fez platôs sem autorização, inclusive em área de preservação. Caso veio à tona após denúncia do deputado Sérgio Majeski (PSDB).

18 de agosto de 2022
atualizada em 18 de agosto de 2022
A imobiliária tem dispensa de licenciamento dada pela Prefeitura, mas provocou devastação ao infringir leis ambientais. Foto: Divulgação
A imobiliária tem dispensa de licenciamento dada pela Prefeitura, mas provocou devastação ao infringir leis ambientais. Foto: Divulgação

Desmatamento e construção de platôs, inclusive em Área de Preservação Permanente (APP), para implantação de mais um condomínio/loteamento em terreno rural de Santa Teresa foram flagrados pelo Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA) na última sexta-feira (12). A ação da Polícia aconteceu após pedido do deputado estadual Sérgio Majeski (PSDB).

O local da degradação fica na região de Alto Santo Antônio, próximo à Reserva Biológica Augusto Ruschi. E é de propriedade da Thomazini Empreendimentos Imobiliários, empresa que ficou conhecida por fazer projetos semelhantes, principalmente, na região do Circuito Turístico do Caravaggio.

No caso do flagrante em Alto Santo Antônio, a Polícia registrou um Boletim Unificado (BU) onde detalha irregularidades cometidas pela empresa, que acabou enquadrada na Lei de Crimes Ambientais.

No relato dos policias registrado no BU, consta que a Thomazini afixou no local uma placa indicando que possui Dispensa de Licença Ambiental Nº 010 /2022 emitida pela Prefeitura de Santa Teresa, no Espírito Santo. Ocorre que, explica a Polícia, tal dispensa apenas permitiria a recuperação e implantação de acessos (estradas).

E como houve derrubada de Mata Atlântica e construção de diversos platôs, inclusive nas margens de córrego afluente do rio Timbuí/Reis Magos, que é APP, os policiais fizeram contato imediatamente com o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (IDAF). Pelo menos cinco platôs já haviam sido escavados até a data de confecção do BU, o maior deles com 750 m2, segundo o BPMA.

Eis que os policiais foram informados por agente do IDAF que o empreendimento já havia sido alvo da Operação Curupira, deflagrada em maio pelo Estado para combater desmatamento e outras degradações ambientais nas montanhas capixabas provocadas pela especulação imobiliária.

De posse da informação, os PMs se dirigiram até a sede da Thomazini em Alto São Lourenço. Lá chegando, foram informados pelo advogado da empresa de que a imobiliária havia requerido, novamente, junto à Prefeitura, licença de regularização para o empreendimento. Diante disso, fizeram o BU e apontaram desrespeito ao artigo 60 da Lei de Crimes Ambientais (Lei Federal 9.605/98). Veja o que diz o artigo:

Art. 60. Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar, em qualquer parte do território nacional, estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores, sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes, ou contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Lei Federal 9.605/98.

Prefeitura

A reportagem enviou, via e-mail, questionamentos para a Secretária de Meio Ambiente de Santa Teresa, Thayane Maciel Neves, uma vez que o loteamento tem dispensa de licenciamento do município, mas fez mais coisas que do que poderia, segundo a Polícia. Mas, até o momento desta publicação, Convergente não obteve retorno. Caso Thayane se manifeste, esta reportagem será atualizada.

A empresa

A reportagem entrou em contato com a Thomazini Empreendimentos Imobiliários. Via aplicativo de texto, a pessoa que respondeu em nome da imobiliária, disse que a empresa está fazendo o que foi solicitado pelos órgãos ambientais. E que não iria passar mais informações. 

Intimidação por cobertura

Por conta da cobertura sobre os impactos ao meio ambiente gerados pela expansão imobiliária desordenada nas montanhas, a equipe do Convergente foi intimidada por empresários ligados ao ramo durante evento público no último dia 03 de junho em Santa Teresa.

Foi na solenidade com governador, prefeito, deputados e outras lideranças, ocorrida nas dependências do Senac, sobre investimentos públicos do estado no município. Dentre eles a pavimentação da estrada do Circuito Turístico do Caravaggio, um dos epicentros da expansão do mercado de sítios, chácaras e condomínios.

A hostilização ao trabalho jornalístico em Santa Teresa está sendo acompanhada pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI), de acordo com o conselheiro da entidade Roberto Junquilho. O caso também foi levado à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, conforme informou o parlamentar membro do colegiado, Hélder Salomão (PT/ES). 

O gabinete do governador Renato Casagrande (PSB) também foi informado.do fato. O ex-prefeito da Serra e ex-deputado federal Audifax Barcelos (Rede) deu declaração pública de apoio ao trabalho do Convergente.

imagem de
Bruno Lyra
Jornalista especializado em coberturas ambientais e professor de geografia
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