Moradores de Santa Teresa denunciam ameaças nas redes sociais

Integrantes do grupo retransmitem mensagens de ódio e desinformação que, em minutos, são disseminadas pelas redes sociais

29 de março de 2021
atualizada em 22 de julho de 2021

O site Congresso Em foco apresenta, em matéria de 2020, como funciona o gabinete do ódio : "Trata-se de uma estrutura que desfere ataques ofensivos a diversas pessoas, às autoridades e às instituições, com conteúdo de ódio, subversão da ordem democrática e incentivo à quebra da normalidade institucional."

A cidade de Santa Teresa é conhecida pelo charme que combina belas paisagens, clima aconchegante, uma encantadora cultura italiana e um povo muito acolhedor. Em contraste a isso, o Convergente recebeu denúncias de agressões nas redes sociais e da possibilidade de existir uma extensão do gabinete do ódio em Santa Teresa. Por isso, convidamos 4 moradores para uma entrevista, a fim de esclarecer esses fatos.

Faça uma análise e tire suas próprias conclusões:

Convergente: Qual sua opinião sobre rede social?

Sebastião Nunes Dos Santos: Para mim, as redes sociais são um meio de comunicação pelo qual podemos engajar a população em um determinado tema e ter algum entretenimento.

Daniel Alves: Importante ferramenta para conectar pessoas, facilitando relações à distância, que possibilita a interação nas relações sociais.

Carmem Barcellos: As redes são públicas mas, delimitam o espaço pessoal. Meu espaço representa uma extensão da minha sala de estar. Uso para compartilhar assuntos que me interessam e gostaria que meus amigos soubessem. Deveriam participar do meu perfil apenas amigos que se identifiquem comigo. Rede Social não é lugar para resolver frustrações.

Edno Ferreira: A rede social é um ambiente de interação pessoas x pessoas; empresas/instituições x pessoas; instituições x instituições. Enfim, é uma integração virtual que une perfis onde se debate, se discute e promove relacionamentos de num modo geral. Há tempos ela era “Terra de Ninguém” e atualmente possui leis que protegem a honra e a integridade dessas interações.

Convergente: Qual é a principal utilidade pra você?

SNS: É muito importante para manter a população informada dos acontecimentos da cidade, mostrar meu trabalho e conscientizar.

DA: Entretenimento, socialização, e por vezes fonte de informação.

CB: Usar meu tempo para conhecimento e divulgar fatos relevantes para a sociedade. Não gosto de usar para expor minha intimidade e nem para ostentar. Não sei quem vai ver minha postagem. Não sei se aquela pessoa está com fome, sem dinheiro ou infeliz. Prefiro usar a rede para coisas úteis.

EF: Eu a uso de diversas maneiras: interação com parentes e amigos de vários lugares e principalmente, nesta época de restrições de locomoção em decorrência da pandemia do Covid-19. Sempre fiz muitas amizades nas redes sociais, onde pude conversar e conhecer pessoas.

Por ter morado em várias cidades e ter cursado algumas graduações; é uma maneira de estar sempre em contato com as pessoas. Utilizo também para manifestar os meus pensamentos e posicionamentos dentro daquilo que acredito ser de utilidade para mim e de minha comunidade. Atualmente a principal utilidade das redes sociais é a utilização para o trabalho home office, onde criei facilidades de encontrar as pessoas e realizar o meu trabalho remotamente e com isso, respeitar o distanciamento social. ter economia de tempo e recursos operacionais.

Convergente: Como você descreveria alguns tipos de perfis?

SNS: Alguns perfis são falsos, violentos, sem escrúpulos, perfis e não usam a rede social para fazer o bem.

DA: Alguns perfis vao além daquilo que deveria ser o ideal das redes que é a socialização. Formam redes de ódio e disseminação de fake News.

CB: Já conheci inúmeros perfis de gente boa. Fiz amizades verdadeiras. Mas há àqueles que não são verdadeiros e são usados para cometimento de crimes. Alguns crimes são realmente graves e precisamos estar muito atentos.

EF: Como a rede social é um prolongamento da nossa personalidade, eu jamais poderia ser taxativo, porém, existem perfis falsos que no outro lado pode estar uma pessoa mal intencionada se aproveitando para cometer crimes diversos, principalmente com crianças, mulheres e ferindo o debate democrático.

Convergente: Qual a relação entre rede social e vida real?

SNS: Coisas acontecem todos os dias na comunidade e nem sempre são notadas. Para mim, as redes sociais podem ser um instrumento para valorizar o que acontece de bom onde vivemos e alertar ao povo e aos gestores públicos sobre o quê está ruim.

DA: Penso que rede social deveria ser uma extensão da vida real, em maior ou menor amplitude. Alguns preservam mais sua intimidade, outros não. Mas nunca está dissociada completamente do perfil do usuário.

CB: O ambiente pode ser virtual mas, tudo que publicamos deveria refletir o que somos na vida "analógica". Exceto por um filtro, ou não expor nossas dores, todo o resto deveria ser reflexo de quem somos de fato.

EF: É uma relação muito boa, pois, a rede social nos dá uma primeira impressão sobre as pessoas que nos relacionamos. Nos tempos antes da internet, as pessoas se conheciam menos do que nos dias atuais. Hoje em dia podemos conversar por semanas de forma assíncrona e com isso estimular uma pessoa conhecer melhor a outra e sem dúvida tem tido um papel relevante na vida real.

Convergente: Em Santa Teresa tem milícia virtual?

SNS: Não acredito que exista milícia virtual em nosso município.

DA: Sim. Existe.

CB: Existe sim. Não sei quantos grupos estão ativos. Mas, já recebi denúncias de que meu nome é citado nesses grupos por várias vezes e tratado com muito ódio.

EF: Acredito que em todo lugar têm pessoas que se reúnem em grupos de aplicativos de mensagens, bem como, têm pessoas que usam a chamada deep web que é um submundo virtual. O Estado Islâmico tinha essa estratégia e pelo que sabemos usavam muito esses ambientes com a exibição de filmagens e recrutava pessoas para a causa terrorista. No Brasil, é muito evidente que em todos os lugares existem grupos de pessoas que fomentam essa cultura de ódio, principalmente com essa polarização da política. São grupos que disseminam fake news e outros assuntos que não permitem um debate mais democrático.

Convergente: Em sua opinião, como elas funcionam e com qual objetivo?

SNS: eu não creio que exista isso aqui em nosso município, nunca quis saber se existe e nem como funciona.

DA: Nosso município tem um gabinete do ódio estruturado que produz conteúdos. Existem influenciadores que produzem o conteúdo e os disseminadores, não inocentes, que jogam esses conteúdos nos veículos de comunicação (Whatsapp, Facebook e Jornal). E existem os que replicam de maneira ignorante, sem saber, que fazem parte desse mecanismo.

CB: Essa técnica de desconstrução de reputações e disseminação de mentiras para enganar e manipular o povo chegou ao Brasil através de contatos nos EUA. Já tínhamos no Brasil algo que funcionava de forma parecida mas, nas ruas. Nas redes sociais o mal se ampliou terrivelmente.

EF: Eu penso que existe um sentimento catequético dessas pessoas; principalmente subjulgarem a razão e fomentam o ódio para minarem o discurso democrático.

Convergente: Já foi agredido em alguma postagem?

SNS: Sim. Já fui agredido recentemente em uma postagem, onde um perfil fake me atacou e tentou me desmoralizar.

DA: Sim. Já fui agredido. Esse grupo funciona com um objetivo macro, que é contribuir com a extrema direita nacional (Bolsonaro) e estadual (Manato). E um objetivo micro , que seria ditar os rumos da política local, fazendo parte do executivo e legislativo local.

CB: Sim, muitas vezes. Confesso que perdi o gosto por me relacionar com alguns contatos aqui de Santa Teresa ES. Primeiro, eu parei de ler as mensagens no Messenger. Mas, como eu não lia mais as pessoas começaram a me agredir nos comentários do meu perfil.

EF: Já fui algumas vezes.

Convergente: Qual o teor das agressões?

SNS: Pra mim, foi grave pois quiseram destruir a imagem que eu tenho com falsas acusações.

DA: Ofensas e ameaças pessoais.

CB: São xingamentos de baixo calão, desejos de que eu pegue Covid-19, seja presa, seja torturada e morra. Eu não vou no perfil de ninguém ofendê-los por suas opiniões mas, quem odeia não se contém em ficar no seu canto e eles vêm me ofender por não concordarem com minhas opiniões, ou por eu simplesmente compartilhar uma matéria que fale mal de seus líderes.

EF Já fui agredido por pessoas da esquerda e da direita, pois, nunca me calei quando me deparei com práticas erradas da política. Na época petista eu era um nazista e agora virei comunista, não tem meio termo na política nacional; e a última vez um perfil falso me ameaçou de morte.

Convergente: Existe código de ética para as redes sociais?

SNS: Existem sim. Acredito que o código de ética seria cada um respeitar o posicionamento do outro e opinião. Esse seria a ética.

DA: Existem o termo de uso, da própria politica do aplicativo. Existe o marco civil da internet. E existe ainda um comportamento ético nato do ser humano que vivem em sociedade que deveria ser seguido.

CB: Sim. Para participar das redes precisamos concordar com a política de relacionamento do provedor. De toda forma, tudo que diz respeito a convivência em sociedade já está bastante internalizado nos indivíduos que a compõem. O problema são os rebeldes que não se conformam em agir de forma politicamente correta. São muito maus para se conterem e respeitarem o outro. São fracos e mesquinhos.

EF: A ética existe em todos os lugares, sejam eles virtuais ou não. A ética é um norteador de toda conduta humana. Infelizmente, não existe leis que regulam a ética humana. Mas o que precede a ética é uma boa educação no seio familiar, onde os pais passam valores para os filhos que carregarão para o resto da vida.

Convergente: Como você explicaria a motivação de tanta agressão nas redes?

SNS: Acredito que eles atacam para nos calar, para nos silenciar e nos colocar amordaçar.

DA: As motivações das agressões surgem a partir da noção de patriotismo apresentado pela extrema direita, que prega a intolerância a quem pensa de modo distinto do grupo opressor.

CB: Algum tipo de frustração mal resolvida. São pessoas obstinados e incontinência. Não têm domínio próprio. E claro, o fato de o ambiente virtual dar a falsa sensação de que aquela pessoa não será punida.

EF: A rede social é um espaço democrático, onde deu voz para todas as pessoas. Têm pessoas que não tem pudores e uma boa educação e destilam várias coisas ruins. E aproveitando disso, alimentou o atual governo federal que soube usar a seu favor esse sentimento de ódio das pessoas, falando a linguagem delas. Com a polarização cada vez mais acirrada, principalmente com a anulação dos processos do ex-presidente Lula. Acredito que ano que vem será ainda pior nesse sentido. Os usuários precisarão ter estômago para utilizarem as redes sociais pelas manifestações de ambos os lados.

Convergente: Voce imagina porque pessoas usam perfis falsos?

SNS: Porque são pessoas sem caráter , que não querem o bem dos outros. Pessoas covardes que nunca terão nossa coragem e determinação de defender a verdade e a honra. Pessoas que se escondem atrás de perfil falso não merecem respeito de NINGUÉM.

DA: Imagino que as pessoas usam como meio de mascarar a identidade, seja porque acreditam que estariam isentos da reprovação social, ou até estatal. Ou ainda, porque dessa forma possam falar de si mesmas sem se expor. As vezes o agressor ataca com ofensas relacionadas a própria vida dele.

CB: São pessoas de caráter fraco e sem caráter. Pessoas que não entendem que é mais importante a verdade e viver bem. Essas não conseguem respeitar a opinião e vontade do outro e querem impor sua vontade mesmo que pra isso precise mentir e fazer mal ao outro.

EF: Utilizam para desestabilizares as pessoas e porque não têm argumentos para um debate saudável. E tendo oportunidade, cometerem crimes ou ações mal intencionadas.

Considerações da autora

Muitas dessas agressões não aconteceriam fora do ambiente virtual, ainda que as mesmas pessoas estivessem envolvidas. O discurso de ódio fica mais fácil de ser propagado no ambiente virtual porque causa a sensação de que o agressor está distante do agredido.

A internet ergue um muro em que não há como enxergar, no ato, as consequências dessas agressões verbais, não dá pra ver o rosto desfigurado da pessoa agredida. Com isso, perdemos grande parte da empatia ao achar que o outro é só um perfil de rede social, esquecendo que não existe essa separação entre vida virtual e vida real que as pessoas costumam fazer. Só há seres humanos que merecem ser tratados com respeito, independente o ambiente.

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