Sexo e o cuidado de Deus com a sua saúde
Ao contrário da crença popular de que Deus não se importa com o que acontece com o nosso corpo, um princípio Bíblico é suficiente para nos orientar a respeito do assunto.
Recentemente, li uma matéria sobre o aumento da incidência do câncer anal nas mulheres, publicada por André Murad, que é oncologista, pós-doutor em genética, professor da UFMG e pesquisador da área. O texto destaca, logo em seu segundo parágrafo, o seguinte (grifo meu):
Esse é um tipo de tumor raro, que pode ser confundido com outros tipos de ocorrências. Os sintomas incluem sangramento e dor anal, especialmente durante a evacuação. Acomete, em geral, pessoas com mais de 50 anos, que durante a vida praticaram sexo anal ou que estão infectadas pelo vírus do Papiloma Humano - HPV ou HIV.
É verdade que o sexo anal é praticado por diversos grupos diferentes em nossa sociedade moderna (e cada um é livre para praticar qualquer tipo de ato, desde que não fira a legislação vigente). Independentemente da legalidade do ato em nosso ordenamento jurídico, a Bíblia não parece fazer menção direta a esta prática, deixando muitos cristãos na dúvida quanto ao que Deus pensa sobre a prática do sexo anal. E, para ajudar no esclarecimento deste assunto, não podemos deixar de lado algumas evidências Bíblicas, que é o texto base para todo o cristianismo.
Em primeiro lugar, a Bíblia relata diversos tipos de práticas, ainda que Deus não as aprove. A Bíblia é, em grande parte, um livro histórico, que narra acontecimentos. Ainda que existam profecias, leis e poesias, grande parte da Bíblia se trata de narrativa: a arte escrita de se contar histórias. Do ponto de vista da narrativa, os autores bíblicos (aqueles que escreveram os livros contidos na Bíblia), em muitos casos, não se preocupam se o personagem da história está agindo da maneira correta ou não. Por isso, não podemos concluir que qualquer tipo de prática narrada na Bíblia está, necessariamente, de acordo com a vontade de Deus. Um bom exemplo é o caso de Davi e seu adultério, que não recebe nenhum tipo de reprovação do autor (ao menos em primeira instância), quando o adultério é, claramente, reprovado pelo Deus bíblico (leia Êxodo 20:14). Assim, nem tudo que acontece no relato bíblico é permitido pelo Deus judaico-cristão.
Em segundo lugar, a Bíblia foi escrita a milhares de anos atrás, quando muitas práticas modernas sequer tinham paralelo naquele contexto. Por exemplo, a Bíblia não menciona a respeito do fumo e das drogas, pois são fenômenos modernos que não foram motivo da atenção dos escritores da época. Deste modo, não devemos esperar uma condenação ou aprovação bíblica sobre práticas que não eram encontradas facilmente naquele tempo.
Em terceiro lugar, temos a dificuldade da tradução. O texto bíblico foi escrito em uma linguagem antiga, utilizando o vocabulário da época. É difícil precisar o sentido exato de algumas palavras e expressões, nos deixando na dúvida se algumas práticas (como o sexo anal) são condenáveis por algum texto, como este:
"Por isso, Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si; pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém! Por causa disso, os entregou Deus a paixões infames; porque até as mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outro, contrário à natureza; semelhantemente, os homens também, deixando o contacto natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição do seu erro." (Romanos 1:24-27)
Alguns intérpretes dizem que a “torpeza” aqui, está incluindo a prática do sexo anal, mas o texto não deixa explícito, como pessoas modernas gostariam que estivesse. Entretanto, há autores que interpretam as palavras do apóstolo de modo a entender que o assunto não trata de relações sexuais, mas sim de outras questões. Chegam a esta conclusão já que expressões como “sensualidade”, “torpeza” e “relações íntimas” também podem significar outras coisas que não sexo, propriamente dito. Isto se dá devido à dificuldade da tradução. Muitas palavras podem ter mais de um significado ao ser transportada para outra língua (especialmente quando muito distantes, historicamente, como o Hebraico, Grego e o Português).
Por estes três motivos, especialmente, precisamos buscar a resposta para questões modernas, como a prática do sexo anal, de outra forma: através de princípios de vida explícitos pelos autores. E, para o presente caso, gostaria de mencionar apenas um deles:
"Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado." (1 Coríntios 3:16-17) "Fugi da impureza. Qualquer outro pecado que uma pessoa cometer é fora do corpo; mas aquele que pratica a imoralidade peca contra o próprio corpo. Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo." (1 Coríntios 6:18-20)
Nestes dois textos, Paulo deixa claro um princípio Bíblico muito conhecido pelos cristãos judeus do primeiro século: Deus se importa com o que fazemos com nosso corpo. Não é à toa que Deus deixou princípios sobre alimentação (leia Levíticos 16) e saúde (leia Levíticos 14) para aquela época. Hoje, a medicina é uma bênção, já que podemos nos cuidar de maneiras muito superiores às daquele tempo, ainda que precisemos analisar cada caso com cuidado, já que os autores de trabalhos científicos também divergem entre si sobre diversas questões.
De qualquer forma, apenas com este princípio em mente (da necessidade de cuidarmos do nosso corpo), podemos concluir, sem muito esforço, que qualquer prática que prejudique nossa saúde e destrua nosso corpo deve ser evitada. E, de acordo com as evidências científicas mais recentes, podemos incluir o sexo anal neste caso.