Ambientalistas se unem e ajudam a recuperar nascente em área urbana da Serra

Aplicando técnicas de baixo custo, com materiais recicláveis e com ajuda de estudantes, moradores da Serra recuperam nascente da lagoa do Jardim Botânico.

23 de setembro de 2022
atualizada em 25 de setembro de 2022
Ativistas implantaram tecnologia chamada 'Caxambu' na nascente: 10 pessoas trabalharam nas ações, além de estudantes de escola vizinha. Foto: Divulgação
Ativistas implantaram tecnologia chamada 'Caxambu' na nascente: 10 pessoas trabalharam nas ações, além de estudantes de escola vizinha. Foto: Divulgação

Um grupo de ativistas e moradores da Serra, na Grande Vitória, se mobilizou a está ajudando a recuperar nascentes. Eles criaram o projeto Tororó, que cercou, implantou filtro, retirou esgoto e está reflorestando nascente que abastece a lagoa do Jardim Botânico da Serra, localizado na sede do município.

A nascente fica num vale cercado pelo bairro São Lourenço. Este vale está ameaçado pela expansão urbana desordenada. E é um local que além de água, conserva remanescentes de mata Atlântica e animais silvestres. O terreno onde os ativistas estão fazendo o trabalho pertence à Prefeitura, pois faz parte do Jardim Botânico.

A iniciativa do projeto Tororó é da Associação de Amigos do Mestre Álvaro. De acordo com o ativista Filipe Ramos, que também é biólogo, o trabalho começou em 2020, mas foi interrompido pela pandemia, sendo retomado somente em março último.

No local onde a água brota, o grupo implantou a tecnologia chamada Caxambu, que é de baixo custo. “É uma manilha com filtro e cano por onde flui a água. Esse cano fica exposto para que as pessoas vejam a água caindo. Além de ajudar a proteger o líquido, tem objetivo pedagógico”, explica o biólogo.

Para recuperar a saúde ambiental do entorno, os ativistas removeram plantas exóticas (que não são nativas) e plantaram 130 mudas de espécies da Mata Atlântica. “As últimas 30 mudas foram plantadas quarta-feira (21) por alunos da escola Clóvis Borges Miguel, que é vizinha a nascente e onde estamos fazendo trabalho de educação ambiental por dentro do projeto”, destaca Ramos.

Ainda na frente de recuperação ambiental, os ativistas implantaram a técnica de nucleação, onde são implantados poleiros e colocados galhos e troncos cortados no chão. “O material vegetal vai decompondo e ajuda a melhorar o solo, atraindo animais decompositores e microorganismos. Os poleiros atraem pássaros que, ao defecarem ou regurgitarem sementes, ajudam a plantar mais árvores. Inclusive no plantio escolhemos espécies que dão frutos para passarinhos”, detalha Filipe.

O biólogo lembrou que a cada três dias um ativista vai ao local molhar as mudas plantadas, caso não chova. Ele destaca também que mesmo com a seca, a nascente segue produzindo boa quantidade de água.

Luta para tirar esgoto lançado clandestinamente

Paralelamente às intervenções no local, o grupo passou a cobrar da Cesan/Ambiental Serra a implantação de redes de esgoto nos bairros do entorno para que a poluição parasse de ser lançada na nascente. Cobrança essa que também foi direcionada à Secretaria de Meio Ambiente (Semma) e a até à Câmara de Vereadores do município, para que usassem de suas atribuições legais para exigir da Cesan/Ambiental Serra a implantação das redes e ligação por parte de moradores.

Deu certo. Finalmente, entre julho e agosto, a concessionária implantou a rede, os moradores fizeram a ligação e a nascente parou de receber a poluição, conta Filipe. “Com o esgoto sendo coletado para o sistema de tratamento, já dá para ver a melhora na qualidade da água”, salienta.

Três placas foram instaladas no Jardim Botânico informando da ação, uma delas próxima à nascente. Também houve retirada de lixo no local. O que era possível reciclar foi encaminhado para a Abrasol, Associaçãod de Catadores que funciona em Planalto Serrano, bairro que fica próximo à região da Serra Sede.

Filipe lembrou ainda que a ONG também usou materiais recicláveis em parte das suas ações. Esses materiais vieram da Vila Recicla, empresa sediada em Nova Carapina, na região do Civit I, também na Serra.

Custo

O custo total da recuperação foi de R$ 30 mil. “Esse dinheiro veio do Fundo Municipal de Conservação Ambiental da Serra, do qual tivemos acesso após inscriver o projeto em edital. Dez pessoas trabalharam nas ações, entre membros da ONG e mão de obra contratada. Sem contar a participação dos estudantes. Com o recurso também compramos 200 camisas que foram distribuídas paras os alunos da escola Clovis Borges Miguel, fizemos 2 mil folderes para informar as comunidades do entorno e ainda vamos fazer mais duas placas de sinalização”, conclui Filipe.

imagem de
Bruno Lyra
Jornalista especializado em coberturas ambientais e professor de geografia
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