Ambientalistas se unem e ajudam a recuperar nascente em área urbana da Serra
Aplicando técnicas de baixo custo, com materiais recicláveis e com ajuda de estudantes, moradores da Serra recuperam nascente da lagoa do Jardim Botânico.
Um grupo de ativistas e moradores da Serra, na Grande Vitória, se mobilizou a está ajudando a recuperar nascentes. Eles criaram o projeto Tororó, que cercou, implantou filtro, retirou esgoto e está reflorestando nascente que abastece a lagoa do Jardim Botânico da Serra, localizado na sede do município.
A nascente fica num vale cercado pelo bairro São Lourenço. Este vale está ameaçado pela expansão urbana desordenada. E é um local que além de água, conserva remanescentes de mata Atlântica e animais silvestres. O terreno onde os ativistas estão fazendo o trabalho pertence à Prefeitura, pois faz parte do Jardim Botânico.
A iniciativa do projeto Tororó é da Associação de Amigos do Mestre Álvaro. De acordo com o ativista Filipe Ramos, que também é biólogo, o trabalho começou em 2020, mas foi interrompido pela pandemia, sendo retomado somente em março último.
No local onde a água brota, o grupo implantou a tecnologia chamada Caxambu, que é de baixo custo. “É uma manilha com filtro e cano por onde flui a água. Esse cano fica exposto para que as pessoas vejam a água caindo. Além de ajudar a proteger o líquido, tem objetivo pedagógico”, explica o biólogo.
Para recuperar a saúde ambiental do entorno, os ativistas removeram plantas exóticas (que não são nativas) e plantaram 130 mudas de espécies da Mata Atlântica. “As últimas 30 mudas foram plantadas quarta-feira (21) por alunos da escola Clóvis Borges Miguel, que é vizinha a nascente e onde estamos fazendo trabalho de educação ambiental por dentro do projeto”, destaca Ramos.
Ainda na frente de recuperação ambiental, os ativistas implantaram a técnica de nucleação, onde são implantados poleiros e colocados galhos e troncos cortados no chão. “O material vegetal vai decompondo e ajuda a melhorar o solo, atraindo animais decompositores e microorganismos. Os poleiros atraem pássaros que, ao defecarem ou regurgitarem sementes, ajudam a plantar mais árvores. Inclusive no plantio escolhemos espécies que dão frutos para passarinhos”, detalha Filipe.
O biólogo lembrou que a cada três dias um ativista vai ao local molhar as mudas plantadas, caso não chova. Ele destaca também que mesmo com a seca, a nascente segue produzindo boa quantidade de água.
Luta para tirar esgoto lançado clandestinamente
Paralelamente às intervenções no local, o grupo passou a cobrar da Cesan/Ambiental Serra a implantação de redes de esgoto nos bairros do entorno para que a poluição parasse de ser lançada na nascente. Cobrança essa que também foi direcionada à Secretaria de Meio Ambiente (Semma) e a até à Câmara de Vereadores do município, para que usassem de suas atribuições legais para exigir da Cesan/Ambiental Serra a implantação das redes e ligação por parte de moradores.
Deu certo. Finalmente, entre julho e agosto, a concessionária implantou a rede, os moradores fizeram a ligação e a nascente parou de receber a poluição, conta Filipe. “Com o esgoto sendo coletado para o sistema de tratamento, já dá para ver a melhora na qualidade da água”, salienta.
Três placas foram instaladas no Jardim Botânico informando da ação, uma delas próxima à nascente. Também houve retirada de lixo no local. O que era possível reciclar foi encaminhado para a Abrasol, Associaçãod de Catadores que funciona em Planalto Serrano, bairro que fica próximo à região da Serra Sede.
Filipe lembrou ainda que a ONG também usou materiais recicláveis em parte das suas ações. Esses materiais vieram da Vila Recicla, empresa sediada em Nova Carapina, na região do Civit I, também na Serra.
Custo
O custo total da recuperação foi de R$ 30 mil. “Esse dinheiro veio do Fundo Municipal de Conservação Ambiental da Serra, do qual tivemos acesso após inscriver o projeto em edital. Dez pessoas trabalharam nas ações, entre membros da ONG e mão de obra contratada. Sem contar a participação dos estudantes. Com o recurso também compramos 200 camisas que foram distribuídas paras os alunos da escola Clovis Borges Miguel, fizemos 2 mil folderes para informar as comunidades do entorno e ainda vamos fazer mais duas placas de sinalização”, conclui Filipe.