Vamos ao parque

Parques são espaços lúdicos, cheios de possibilidades de aprendizagem, brincadeiras, encontros, saúde e felicidade. Santa Teresa está prestes a conquistar um lugar assim

Walter Có *
30 de julho de 2023
atualizada em 30 de julho de 2023
Parque Temático Augusto Ruschi: imagem Google
Parque Temático Augusto Ruschi: imagem Google

Quantas boas lembranças não começaram com essa simples frase? No imaginário infantil, ou mesmo adulto, sair de casa para passear em um parque, seja um parque de diversões ou um parque ecológico, é sempre garantia de momentos felizes e de lembranças que perduram por toda vida. Parques são espaços lúdicos, cheios de possibilidades de aprendizagem, brincadeiras, encontros, saúde e felicidade. Santa Teresa, no Espírito Santo, está prestes a ganhar (ganhar não, conquistar, pois não caiu do céu, foi fruto de muita luta e trabalho de pessoas que acreditam em um futuro melhor) um parque. E não um parque qualquer, mas um parque ecológico e urbano, três elementos mais que especiais.

Um parque ecológico significa que ele estará repleto de vida. Sim, o que existe de mais especial em Santa Teresa, que é sua exuberante biodiversidade estará lá, protegida e acessível a todos que queiram conhecer e desfrutar de seus benefícios e de suas belezas. O fato desse parque ecológico ser urbano traz ainda uma outra qualidade especial, pois o coloca no meio da cidade, fazendo com que possa ser facilmente visitado por seus moradores e pelos turistas que chegam a Santa Teresa, tornando-se assim uma parte importante da vida e da dinâmica da cidade.
Parques urbanos estão se tornando uma realidade cada dia mais presente em todo mundo. Na década de oitenta o Japão cunhou o termo “Shinrin-Yoku”, que significa “banho de floresta”. O governo japonês buscou incentivar sua população a um maior contato com a natureza através da criação de diversos parques ecológicos urbanos. Pesquisas iniciadas por eles e posteriormente replicadas em outros países demonstraram a relação entre o contato com a natureza e a melhoria da saúde humana, tanto física quanto mental. Atualmente, sabemos que pequenas moléculas produzidas pelas árvores chamadas de fitocidas e terpenos atuam diretamente sobre o nosso organismo, produzindo efeitos benéficos como: diminuição do estresse e equilíbrio da pressão arterial; regulação da frequência cardíaca e da atividade do sistema nervoso parassimpático; incremento da capacidade de atenção e aprendizado, da produção no trabalho, da saúde emocional e psíquica, assim como a melhoria da qualidade do sono.

Sim, nosso organismo reconhece e interage muito positivamente com a floresta e seus produtos. Por outro lado, o distanciamento da natureza parece estar ligado a diversos distúrbios da sociedade moderna, tais como autismo, ansiedade, baixa do sistema imunológico e depressão. Richard Louv, em seu livro: “A última criança da natureza”, cunhou o termo “déficit de natureza” para representar distúrbios de saúde física e mental apresentado por moradores das grandes cidades que desenvolvem sintomas de ansiedade e depressão, justamente por estarem privadas desses ambientes naturais. As crianças principalmente que, segundo ele, precisam desse contato para seu desenvolvimento integral, seja físico ou mental. Dentro da psicologia, está emergindo uma nova linha conceitual e terapêutica chamada de Ecopsicologia, que estuda e promove a relação das pessoas com os ambientes naturais.

Sempre ouvimos falar que o ser humano está se afastando da natureza. Mas meus muitos anos vividos na Biologia e no Ambientalismo me mostraram uma visão diferente. Nós não nos afastamos da natureza, ao invés disso, nós afastamos a natureza de nós. Santa Teresa é um triste exemplo de como isso acontece. Essa cidade maravilhosa sempre foi cercada de natureza, mas os constantes desmatamentos estão mudando rapidamente essa paisagem, fazendo surgir cada dia mais casas e condomínios onde antes havia florestas. Cidades como São Paulo e Rio de Janeiro um dia já foram como Santa Teresa, cercadas de natureza e belezas naturais por todos os lados. Mas o crescimento urbano insano e desordenado mudou rapidamente essa realidade e transformou espaços verdes e saudáveis em paisagens frias e doentes.

Os parques ecológicos urbanos nas cidades tornam-se então ilhas de natureza, de vida, de saúde e de beleza, nesse cenário adoecido. Um espaço valioso onde as crianças poderão aprender a se relacionar com a natureza, não através do olhar de um caçador, mas de um admirador e pesquisador, onde os adultos poderão passear e levar seus filhos para criarem boas lembranças e onde os turistas poderão passar um tempo rico e valioso. Santa Teresa é uma das cidades ainda mais próximas a áreas naturais ricas e saudáveis, e uma das cidades onde as pessoas vivem por mais tempo, envelhecendo com saúde, tanto física quanto mental. Acreditem, isso não é coincidência. A população de Santa Teresa é banhada diariamente por essa natureza maravilhosa e colhe seus benefícios, tanto físicos quanto mentais. Não podemos perder isso, vamos criar um parque cheio de vida e perpetuar o legado da terra da natureza, das orquídeas, dos colibris, da saúde e da longevidade.

Vamos para o parque!


* sobre o autorWalter Có é consultor ambiental na empresa Econservation; professor de graduação e pós-graduação da FAESA onde ministra as disciplinas ecologia, evolução, biogeografia, biologia da conservação, ecologia social, ecologia humana e fotografia da natureza. Walter é consultor, palestrante e instrutor em cursos de capacitação de professores na área de meio ambiente e educação ambiental pela SEDU e IEMA. É consultor instrutor em cursos de formação profissional na área ambiental para empresas como Petrobrás, Technip, Arcelor, Fíbria IBAMA e IEMA. Palestrante em eventos ligados ao meio ambiente, educação ambiental, tais como Feira do Verde, Semana do Meio Ambiente, entre outros. Autor do livro Gaia uma semente Educação ambiental interdisciplinar Edufes 2000.

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