A massificação da sociedade e a consequência na resolução do conflito
Será que a sociedade sempre enfrentou o conflito da forma como encaramos hoje?
Será que a sociedade sempre enfrentou o conflito da forma como encaramos hoje? Não parece que estamos sempre em conflito, ou alguém próximo passando por um? Será que existe uma mudança na sociedade que estaria influenciando esse comportamento?
Com a revolução industrial, os produtos e serviços passaram a ser produzidos em série. Ao mesmo tempo a fabricação em massa e em larga escala fez com que a sociedade se enquadrasse a este modelo, visando criar um aspecto de vida padronizado, massificada.
Posteriormente, esse arquétipo passaria a refletir no jeito de consumir, nos ditames do meio de comunicação de massa, como estratégia de alienação do padrão ideal. A propagação de comportamentos e costumes que são os esperados.
Para o sociólogo Polonês Zygmunt Bauman, que teve como um dos principais focos de estudo os efeitos do individualismo e da sociedade de consumo nas relações humanas modernas, a modernidade se divide em sólido e líquido e tinha como marco divisor a Segunda Guerra Mundial.
A Modernidade Sólida que teve o período anterior a Segunda Guerra Mundial, tinha como principais características a rigidez e solidificação das relações humanas, das relações sociais, da ciência e do pensamento. Havia um compromisso sério com a busca pela verdade uma valorização das tradições, além da lógica da moral: valorização das pessoas pelo que elas são. Era o SER em detrimento do TER. Havia uma estabilidade, uma constância.
Já na Modernidade Liquida, que abrange o período após a Segunda Guerra e ficou mais evidente na década de 60, se tinha como principais características o enfraquecimento do laço entre pessoas e entre pessoas com as instituições. As Relações econômicas ficaram sobrepostas às relações sociais e humanas. A Lógica do consumo era a valorização do que as pessoas têm. Alternamos para o TER em detrimento do SER. Para mudanças rápidas e imprevisíveis.
Essas mudanças rápidas e imprevisíveis são consequências da sociedade que não se esforça para o pensamento profundo e que tem a facilidade de resposta rápida, como por exemplo tirar alguma dúvida através de pesquisa pela internet. A sociedade se tornou imediatista. E a maior consequência do imediatismo é o estresse e a imprevisibilidade do comportamento.
Querer se enquadrar em padrões e esquecer que o ser humano é individual, cada um com sua peculiaridade, faz com que as pessoas não tenham mais paciência umas com as outras, faltando com o diálogo, terminando com a comunicação e principalmente com a conversa uns com os outros.
Com isso deixou de existir um processo de reflexão - pensamentos profundos de uma realidade pessoal, mas sim um comportamento que é determinado por todos. Melhor, não existe uma análise individual, concebendo que todos têm suas necessidades, seu aspecto individual, autonomia e história.
E por achar que todo mundo é igual, espera-se que seu próximo haja e aceite uma determinada situação sem qualquer aprofundamento no diálogo, com uma comunicação rasa, gerando com isso inúmeros conflitos.
Pensamentos rasos nos fazem achar que somos todos iguais. Esquecemos do que é humanidade. Passamos a enxergar qualquer embate como algo negativo, quando na verdade a discordância deveria ser o normal, quando se pensa e entende a humanidade de maneira correta.
Quando o ser humano esqueceu desse parâmetro, permitiu-se enxergar o conflito de forma negativa, se prendendo a ele e não conseguindo evoluir. Não conseguindo avançar e muito menos transcender, pois a forma de se posicionar é negativa e o conflito nunca irá se resolver.
Quando se tem um olhar negativo do conflito se percebe ele como algo competitivo e a parte busca vencer a disputa sobre qualquer aspecto. Existe uma percepção errônea de que os interesses das partes não podem coexistir.
Se olharmos o conflito positivamente, como forma de se desenvolver competências e com isso evoluir como pessoa, como profissional, o conflito positivo estimula as partes a cultivar soluções criativas, existindo compatibilização dos interesses aparentemente contrapostos. Existe uma capacidade das partes ou do condutor do processo de motivar todos os envolvidos para que prospectivamente resolvam as questões sem atribuição de culpa
Nossa percepção é muito importante e é capaz de mudar a forma como enxergamos o conflito, mas o que é percepção? Percepção é nossa capacidade de observação sem a emissão de juízos de valor. Será que estamos prontos para verdadeira percepção?
Precisamos mudar nossos paradigmas e devolver a sociedade o conceito de humanidade, e entendermos que somos seres distintos, como educação distinta. O conflito pode ser algo muito mais construtivo do que destrutivo.
No próximo artigo vamos falar sobre a importância da desjudicialização e alguns mecanismos para a melhora na comunicação.
Marjorie Seidel é advogada Colaborativa, Membro do Comissão Estadual de Práticas Colaborativas da OAB-ES. Com especialização pela Universidade ESSEC Business School, no curso "Negociação, Mediação e Resolução de conflitos"; bem como o curso "Transformação do Conflito" pela EMORY UNIVERSITY, e ainda os cursos "Habilidades de Resolução de Conflitos", "Tipos de Conflitos" e "Comunicação Intercultural e Resolução de Conflitos" todos pela Universidade da Califórnia. Para saber mais acesse o site: www.seideladvocacia.com.br