Rodeada pelo poder, porém abandonada pelas autoridades

Dona Domingas, moldada pelo escultor Italiano Carlos Crepaz, professor da UFES nos anos 60

20 de abril de 2021
atualizada em 22 de julho de 2021
Fotos: Estevão Zizzi
Fotos: Estevão Zizzi

Essa é a triste realidade em que é lembrada a história de alguém que marcou gerações, e deixou um grande legado para a história do Espírito Santo, o nome dela é Dona Domingas.

Uma mulher negra, simples e humilde, moradora de periferia que via em meio aos restos de lixo, a única oportunidade de levar o sustento para dentro do seu lar, reciclando o que encontrava pelas ruas . Suas mãos calejadas, olhos caídos e o caminhar lento são os resultados de uma vida sofrida marcada por muitas lutas e persistência para sobreviver.

Rodeada por monumentos históricos, em meio a uma grande movimentação de pessoas, e o vaivém de carros e motos, ela está ali exatamente aos pés do Palácio do Governo do Espírito Santo, esquecida, abandonada sem sequer ter o próprio nome identificado em sua honrosa estátua que carrega uma história marcada pelo trabalho árduo, carregando em seus ombros frágeis o peso do sustento de sua família. 

Felizmente esta história não ficará no esquecimento.

O advogado, escritor e biógrafo, Estêvão Zizzi, após uma pesquisa de mais de vinte anos, resgatou a história de vida de dona Domingas. A conhecida catadora de papelão que viveu no Espírito Santo até os 112 anos. Esculpida pelo escultor Italiano Carlos Crepaz, professor da UFES nos anos 60.

Nas palavras do escritor: “É um descaso! Todo e qualquer monumento tem uma história de vida. É lamentável que dona Domingas reconhecida como pioneira em reciclar o lixo, não tenha uma história de vida! “O mais paradoxal é uma sua estátua ao lado de um imponente Palácio largada ao descaso”.

O escritor deu ao título do livro “A Pietà do Lixo – Dona Domingas”, como forma de protesto. Simplesmente para chamar a atenção daqueles que não deram valor ao legado que dona Domingas nos deixou durante sua vida e nesses cinquenta anos que o monumento esteve ali, ao lado de um imponente Palácio, abandonado ao esquecimento na exata expressão: "Sei lá quem é!" "Padre Anchieta?" "São Benedito?" "Nossa Senhora da Penha, das Alegrias, dos Prazeres?"

Estevão ainda reforça: - Se temos a Pietà Vaticana, a Pietà Bandini, a Pietà Rondanini, a Pietà da Palestina, por que não, a nossa Pietà (Piedade) do Lixo? Do lixo, que dona Domingas se tornou a pioneira em reconhecer a importância de sua reciclagem ao separar o papelão, finalizou o escritor.

O livro Dona Domingas será lançado brevemente. Além do livro físico o escritor, também, o disponibilizará em formato digital.

imagem de
Daniel Louzada
Graduado em Comunicação Social - Jornalismo, trabalhou na CESAN e também foi colunista do Jornal Fatos & Noticias
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