Entrevista com o vereador Bruno Araújo
Conhecimento é o poder para mudança. Não existe transformação sem entendimento.
Conheça um pouco da trajetória política do Vereador Bruno Araújo (PP). Podemos destacar que sempre demonstrou sobriedade no desempenho de seu trabalho no legislativo. Bruno Henriques Araújo foi eleito Vereador no município de Santa Teresa - ES pela primeira vez em 2012, reeleito em 2016 e 2020. Foi eleito para Presidente da Câmara em 2014 e reeleito em 2016 e 2018. Seu trabalho consistente foi reconhecido pela população lhe garantindo três mandatos consecutivos na casa legislativa.
Convergente: Senhor Bruno, há alguns dias, um vídeo seu, na sessão da Câmara Municipal questionando a gestão da pandemia na atual administração em Santa Teresa – ES, teve grande repercussão. Um áudio onde o senhor fala, aparentemente, para um grupo particular, também, foi muito compartilhado. O Convergente gostaria de saber, se suas falas foram baseadas em dúvidas ou fundamentadas em certezas?
Vereador Bruno: Não há dúvidas em nossa fala, em nosso mandato trabalhamos com muita seriedade e transparência.
Convergente: É importante que a população saiba o que de fato está acontecendo para que possa julgar da melhor maneira possível os eventos políticos de Santa Teresa. Em quais documentos o senhor se baseou para levantar tais questionamentos?
Vereador Bruno: Requerimentos, e na fiscalização diária do nosso mandato.
Convergente: O Secretário de Saúde e Vice prefeito, Dr Gregório Venturin, gravou um vídeo, publicado nas redes sociais, contestando suas posições. Gostaríamos de saber se o senhor se sentiu respondido, atendido nos seus questionamentos, ou não? Se não, por quê?
Vereador Bruno: Não me senti respondido, porque a única maneira de se responder um requerimento dessa, ou de qualquer outra natureza, são com ações táticas do executivo para o município.
Convergente: Esclareça qual é o papel do vereador, além de legislar, e sua importância para que o executivo exerça suas funções da melhor maneira possível?
Vereador Bruno: O papel do vereador é legislar. Naturalmente fazemos requerimentos, indicações e até mesmo projetos de leis, mas sobretudo, o papel do vereador é fiscalizar para que os recursos públicos sejam aplicados na sociedade de forma assertiva.
Convergente: O Convergente surgiu de uma necessidade da cidade de Santa Teresa - ES em relação a política pública muito fragmentada, muito dividida. Políticos que não estão no poder e que concorrem a um cargo eletivo costumam se tratar como inimigos numa cidade que é tão pequena. É um custo muito alto para uma população de 25 mil habitantes, onde todos deveriam estar convergindo para o crescimento do município. Se perde muito tempo com brigas pessoais, quando todos deveriam estar se ajudando para crescermos juntos. Como o senhor vê este papel do vereador em fiscalizar e apontar os erros do executivo? Não acha que é infantilidade um adulto não receber as críticas como positivas? Uma coisa é apontar para a pessoa do cargo, a outra coisa é apontar para o problema da administração. Como o senhor encara essa relação com o executivo?
Vereador Bruno: O papel do vereador é fiscalizar o executivo. E é para isso que nosso mandato está à disposição da sociedade teresense. Nós que estamos políticos somos alvos de inúmeras críticas e posicionamentos que se divergem, contudo precisamos saber recepcionar as críticas que, em sua maioria das vezes, são para nós construtivas.
Convergente: Com o vídeo do Dr Gregório Venturim o senhor se sentiu respondido quanto a questão que levantou sobre a falta das ambulâncias num momento tão urgente e trágico desta pandemia?
Vereador Bruno: Em relação as ambulâncias entendemos que não poderia ter momento pior para deixá-las ausentes. Sua ausência trouxe diversos problemas para os nossos munícipes.
Convergente: O senhor se sentiu respondido com relação ao tema da insalubridade dos funcionários de saúde?
Vereador Bruno: Não me senti respondido, temos uma carta recomendatória do Conselho Estadual de Saúde - CES/ES, que diz: ‘Ao Governo do Estado do Espírito Santo, Prefeituras Municipais do Estado do Espírito Santo e aos Estabelecimentos Públicos de Saúde que promovam o pagamento de Adicional de Insalubridade em grau máximo (40%) a todos os profissionais, trabalhadores e colaboradores da Saúde do Estado do Espírito Santo durante o período em que vigorar o Decreto 4593-R, de 13 de março de 2020, que decretou Estado de Emergência em Saúde Pública no Estado do Espírito Santo, em face à pandemia de COVID19 no Espírito Santo’.
Convergente: O Secretário de Saúde, Dr Gregório Venturim, afirmou que o médico prescreve o isolamento da pessoa que está contaminada, mas não abordou no seu vídeo a questão da aplicação da legislação que impede que as pessoas estejam transitando, ou seja, ele não aborda sobre a questão da intervenção municipal nesta segurança, que impeça pessoas contaminadas de transitarem livremente nas ruas da cidade. O que o senhor poderia nos contar sobre a fiscalização municipal contra aglomerações, trânsito de pessoas sem máscaras e, especialmente, alguns contaminados estarem sendo vistos nas ruas caminhando livremente?
Vereador Bruno: A municipalidade não está empregando mais as ações de combate ao vírus em Santa Teresa. Todas as ações que estavam acontecendo foram paralisadas, hoje só seguimos as ações do Governo Estadual. Santa Teresa não conta mais com o carro pipa para dedetizar as praças e calçadas, não há mais distribuição de máscaras e orientação nas ruas, por exemplo.
Convergente: Senhor Bruno, há pouco tempo eu estive numa padaria e o local estava com bastante clientes fazendo suas compras e um profissional da saúde estava sem máscara dentro da loja. Os clientes se entre olhavam constrangidos e olhavam para aquela pessoa admirados de que ninguém na padaria chamasse sua atenção ou a impedisse que entrasse. Eu me senti extremamente violada nos meus direitos. Temos recebido várias denúncias de aglomerações e de pessoas sem máscaras e nenhuma fiscalização aparente. Muitos reclamando nas redes sociais que falta conscientização dos moradores e fiscalização no município. Numa sociedade existe o direito de ir e vir, mas existe o dever do cidadão de não ser um transmissor de patógeno, de não levar a doença para ninguém. Diante do descaso apresentado, muitos que têm idosos em casa, que têm comorbidades, se sentem inseguros e perdem seu direito de ir e vir, porque não querem ser contaminados e não querem sofrer ou morrer com essa doença. Como que o senhor vê esta fiscalização da Prefeitura? O quê, efetivamente, tem sido feito para garantir o direito de ir e vir das pessoas sem que elas corram maior risco de adoecerem?
Vereador Bruno: Todo cidadão tem que fazer sua parte, uma vez contaminado ou com algum sintoma, devem ficar em isolamento, ocorre que a municipalidade não possui mais o controle da atual situação, não está empregando mais as ações de combate ao vírus em Santa Teresa - ES. Todas as ações que estão acontecendo hoje são diretas do Governo Estadual.
Convergente: O Dr Gregório anunciou que o comitê contra a Covid-19 está funcionando perfeitamente e a bastante tempo. Disse que o senhor desconhece este fato. Abro parênteses, para dizer que boa parte da população também desconhece que o comitê esteja funcionando. É bem verdade, que o senhor, como vereador, teria a obrigação de saber disso antes de falar contra. A população não tem a sua disponibilidade, de estar nos corredores da prefeitura para tomar informação e deve ser uma iniciativa do poder público comunicar a população do que está acontecendo para que todos se sintam seguros e, mais do que isso, a população precisa ver os efeitos disso, precisa ver o funcionamento. Qual o motivo do senhor desconhecer as atividades do Comitê da Covid-19?
Vereador Bruno: Um comitê montado por qualquer órgão público precisa, antes de tudo, que seja dado publicidade ou até mesmo publicado no diário oficial bem como a nomeação dos membros. E se isso não foi feito, logo não têm comitê.
Convergente: Por fim, o Dr Gregório explanou sobre a questão dos médicos. É sabido que Santa Teresa sempre teve este problema. O município vem enfrentando essa questão do profissional da saúde, do médico especialmente, não ter interesse de vir morar aqui. Primeiro, porque os salários da prefeitura são baixos para as expectativas de quem trabalha nesta área e mesmo com alguns acertos, transformando o pagamento dessas pessoas em bolsas e pudessem aumentar um pouco, ainda continuam não sendo vantajosos, pois com bolsa eles não conseguem fazer algumas coisas como financiamentos em banco, por exemplo. Isso, dos médicos não atenderem aos processos de contratação, não pode ser desculpa para a gestão pública. Há de se resolver o problema na cidade com criatividade. Por exemplo, a prefeitura poderia fazer um planejamento da construção de uma vila para médicos, para que eles pudessem vir para cá e ter moradia sem precisarem gastar na compra de uma casa, ou em aluguel caro. Outra forma criativa de resolver o problema dos médicos seria implantando a telemedicina. A telemedicina já se provou muito eficiente e eficaz. Mas como fazer isso aqui em Santa Teresa com uma população ruralista, muitos pobres e pessoas simples? Bem, nós temos as Unidades de Saúde e os enfermeiros e profissionais que atendem nelas e poderiam ser treinados para ajudar os pacientes nestas consultas virtuais, ser colocada internet nas Unidades de Saúde e a população poderia ser atendida por telemedicina. Esta nova ferramenta, com certeza, iria facilitar muito que médicos que moram na capital e não têm interesse de vir para Santa Teresa aceitem trabalhar neste sistema pelo município. Psiquiatras, psicólogos, dermatologistas, clínicos Gerais, já atendem dessa forma e é tudo muito prático. Receitas de remédios controlados vêm pelo meio eletrônico. Médicos dermatologistas atendem com foto da área da pele afetada. O enfermeiro assistente pode medir pressão, saturação de oxigênio, medir temperatura e avaliar outras questões. Muito destes problemas de Santa Teresa poderiam ser resolvidos com criatividade, o que pode estar faltando na nova gestão da Secretaria de Saúde. Não deveria ser o objetivo de nenhum gestor ficar se justificando usando a gestão passada. É incoerente fazer isto, visto que são eleitos com discurso de ser a solução para esses problemas. Precisam resolver o agora! O que o senhor acha sobre a eficiência e criatividade desta nova gestão? O senhor como representante do povo está satisfeito com a situação financeira do município? O senhor acha justo usar a gestão passada para se desculpar sempre que a atual gestão for questionada sobre ineficiência?
Vereador Bruno: Contratação de médicos para atuarem em UBS realmente é um problema enfrentado por diversos municípios, principalmente em interior, mas o que jamais pode acontecer é deixar os nossos munícipes sem médicos e esse problema pode ser resolvido com a compra de consultas por meio do consórcio que Santa Teresa está inserida junto com demais municípios da região.
Convergente: Sobre os 25 milhões em caixa citados pelo senhor na sessão da câmara, o senhor reitera tudo que disse? Pode explicar melhor suas colocações?
Vereador Bruno: Esse valor foi a própria prefeitura que me passou através da resposta de um requerimento, e importante lembrar que esse valor é uma herança do governo Gilson Amaro, mas já temos 3 meses do mandato do atual prefeito que com certeza temos muito mais recurso.
Convergente: O senhor era Presidente da Câmara na gestão passada e, aparentemente, próximo do executivo. Isto pode ser uma barreira para sua aproximação com a nova gestão?
Vereador Bruno: Poderia ser uma barreira, mas não da minha parte. Fomos eleitos pelo povo para ajudar o município como um todo. Logo, deveríamos trabalhar em sintonia pelo bem comum dos munícipes, mesmo assim não é o que a atual gestão demonstra fazer
É muito importante que o leitor entenda que crítica à gestão pública é indispensável para que as coisas aconteçam de forma a atender os anseios da população. Um gestor público precisa estar preparado para aceitar e responder as críticas com transparência e amistosamente.
Até a publicação desta entrevista o Secretário de Saúde Gregório Venturim não nos respondeu sobre a possibilidade de atender ao Convergente.
O Prefeito Kleber respondeu algumas das questões do vereador Bruno Araújo na sessão da Câmara no dia 20 de Abril.
O vereador Bruno, também, deu entrevista na Rádio Canaã FM. Caso o leitor queira assistir para maiores esclarecimentos é só clicar aqui.
O Convergente tem como missão abrir nosso espaço para um bom debate em que todas as partes tenham a oportunidade de serem ouvidas e a população posso ter suas dúvidas esclarecidas.
Tags:
política