O Submundo da Criptografia

Mensageiros como o Telegram, Signal, WhatsApp, entre outros, nos impõe um alerta

29 de março de 2021
atualizada em 1 de agosto de 2021

Mensageiros como o Telegram, Signal, WhatsApp, entre outros, nos impõe um alerta: o desempenho desses mensageiros como ferramenta de propagação de mentiras em massa. Isto se tornou um dos principais perigos contra a democracia e bem-estar da sociedade. Como resolver esta ameaça contra o processo democrático? Como evitar a disseminação de mensagens falsas sem colocar em risco direitos à liberdade de expressão e da privacidade?

A criptografia é o que diferencia essas redes privadas das demais redes sociais públicas. Criptografia é a técnica empregada para codificar a escrita e torná-la ininteligível para os que estão fora das mensagens trocadas entre pessoas de um grupo, ou entre dois usuários. Ao mesmo tempo que o sistema garante o sigilo e proteção das mensagens de seus usuários, a criptografia acaba por se tornar uma forte aliada dos que trabalham na difusão de fake news e desinformação, mantendo seus autores em completo anonimato e garantido o desconhecimento autoral dessas publicações até mesmo para quem as recebe. Nem a data da publicação é informada, deixando no total escuro a vítima desta corrente. 

Outro fator que favorece a amplificação de postagens de fake news é o fato de que muitos usuários de mensageiros não sabem fazer checagem das notícias que recebem e a depender de quem lhes envia, ou se o conteúdo lhes agrada, são rápidos em repassar como verdade para muitos de seus contatos. Em pouco tempo temos uma mensagem falsa multiplicada para milhões de usuários ao redor do mundo como se fosse a mais pura verdade.

Esses mensageiros até criaram alguns entraves para dificultar a multiplicação dessas notícias, como a limitação de compartilhamento para no máximo cinco contatos. Porém, isso é facilmente burlado usando a ferramenta 'lista de transmissão'.

Um dos maiores problemas que podemos identificar nestes mensageiros é o fato de não disponibilizarem ferramentas eficientes de checagem, onde o cidadão possa identificar quem originou a mensagem que ele está recebendo. Outra falha, é não poder fazer denúncias de notícia falsa e o recurso 'denunciar' não funcionar adequadamente para impedir o funcionamento dos grupos de milícias digitais.

Quero dividir com o leitor minha experiência no WhatsApp e no final do artigo apresentarei uma ferramenta disponibilizada por este mensageiro para checagem de notícias falsas implantada no Brasil desde 2020.

Por causa do meu ativismo político, fui convidada a participar de grupos do WhatsApp para engajamento e militar em favor de alguns candidatos a presidência da República. Minha entrada em seis desses grupos formados para atuarem em campanha de diferentes candidatos, se tornou um estudo de caso para mim. Também fui convidada a participar de um grupo de ativismo político onde moro, Santa Teresa - ES, e sobre este último grupo retomarei o assunto mais adiante.

Devido a privacidade e particularidade da criptografia dessas redes, se torna improvável que a justiça brasileira descubra os grupos de milícias do ódio, seus planos e a origem das fake news. Por várias vezes denunciei ao próprio aplicativo os grupos de ódio onde fui adicionada, porém aconteceu do aplicativo me excluir e nada ser fazer contra os grupos. Sondei com outros membros como estava agindo determinado grupo depois da minha exclusão e a informação foi de que continuava com as atividades de ódio funcionando normalmente.

As vésperas das eleições de 2018 fui adicionada a um grupo nacional de WhatsApp chamado Bolsonaro Opressor. O objetivo do grupo era engajamento e militância pró Bolsonaro. Achei a oportunidade importante para entender como funcionava os bastidores da campanha do então candidato a presidência da República. Ao mesmo tempo, fui adicionada a outros grupos nacionais de militância pró Marina Silva e outro grupo pró Lula.

Sou muito curiosa e observadora do comportamento humano. E toda essa novidade das Redes Sociais me ajudou a entender alguns fenômenos trazidos para a vida real, como o ódio crescente no Brasil e a cisão de seu povo, que antes das redes era conhecido por sua simpatia e amizade.

O grupo pró Marina tinha características extremamente éticas o que, também, o tornava menos ativo e engajado. Era exigida toda educação na abordagem das manifestações contra outros adversários. Nenhum dos membros poderia atacar a honra dos candidatos concorrentes ou agredir sua militância. Era expressamente proibido usar robôs e o uso de linguagem violenta. Foi nos dito, que essas ordens partiam da própria candidata Marina Silva e caso fosse identificado algum comportamento fora dos padrões determinados por ela, o indivíduo era advertido e finalmente desligado do grupo no caso de reincidência.

No grupo pró Lula havia um engajamento muito forte e lindo de ver, pessoas inquietas e aguerridas. Não era comum ver divulgação de fake news entre eles, mas acreditavam em algumas. O que me incomodava era a indelicadeza de alguns que frequentemente depreciavam candidatos que não fossem petista. Não havia argumentos suficientes para que o ponto de vista deles mudasse. Há de se ressaltar, que nunca vi nada que indicasse que o grupo defendesse o comunismo ou práticas criminosas e de violência.

Já o grupo pró Bolsonaro tinha características muito diferentes dos demais. A agressividade era constante e não existia preocupação em filtrar as tais fake news. Tudo que viesse para depreciar outros candidatos era recebido sem a preocupação de verificar fonte e veracidade. É fato que nem todos do grupo eram assim negligentes e violentos, mas os sensatos tinham pouca voz. Vi casos de bolsonaristas serem excluídos desse tipo de grupo por tentar combater fake news. As únicas qualidades que poderiam ser destacadas como positivas, se analisarmos o objetivo do grupo, era o forte engajamento e a devoção sem reservas ao candidato.

Na minha cidade, em Santa Teresa no Espírito Santo, em 2018 fui incluída em um grupo criado para fiscalizar a gestão pública municipal. O grupo começou bem até que os discursos políticos sobre o candidato Lula e o candidato Bolsonaro se tornaram inevitáveis. Como a maioria do grupo tinha afinidade com o candidato Bolsonaro, qualquer um que argumentasse contra fake news em favor do outro candidato era advertido e excluído temporariamente até a exclusão definitiva. E como disse anteriormente, isso acontecia até mesmo com eleitores do Jair que presavam pela justiça.

Com o passar do tempo, o grupo perdeu seu propósito inicial e se tornou claramente um tentáculo do famoso gabinete do ódio de Brasília. Passou a promover fortemente notícias falsas, desinformação e, o pior, a promover o ódio contra quem não concordasse com as teorias conspiratórias desse grupo e não apoiassem cegamente o mito. Cheguei a denunciar esse grupo várias vezes ao próprio WhatsApp e não houve nenhuma interferência. Depois de receber punição temporária do administrador, o próprio aplicativo me excluiu do grupo após eu insistir em denunciar. Nesta mesma época, comecei a sofrer ataques e ameaças contínuas nas minhas redes sociais públicas. Mensagens muito graves como ameaças de morte, tortura e outras apenas expressões violentas e de baixo calão.

É realmente triste e preocupante ver a possibilidade dessas pessoas se manterem nestes canais protegidas pela criptografia e que os grupos venham a contaminar de ódio e desejos de morte a vida real da comunidade.

A partir do momento que esses grupos formam uma rede conspiratória e de ódio cibernético, pessoas inocentes passam a ser bombardeadas com discurso inverídicos de terror, medo e ódio. Aos poucos essas pessoas vão ficando apavoradas e algumas desenvolvem ódio visceral contra tudo e todos que passam a acreditar terem se tornado seus inimigos e inimigos da pátria. É um ódio criado artificialmente, mas muito real na convivência diária dssas pessoas. Até famílias estão sendo afetadas por este ódio e se separando.

Mentiras arquitetadas com lógica indutiva, das mais cruéis, são enviadas sistematicamente a esses grupos de ódio que imediatamente compartilham para seus contatos. A maneira como seus membros estão intimamente conectados nesta teia e o ódio alimentado entre eles constantemente, chegam ao ponto de se tornarem dependentes dessas notícias falsas, desse ódio e uns dos outros.

Para tentar resolver parte deste efeito colateral da criptografia, o mensageiro WhatsApp lançou no Brasil um canal de checagem de notícias falsas. Mas apenas para notícias relacionadas a Covid-19.

Para usar o serviço, oferecido gratuitamente, o usuário precisa gravar o número +1 (727) 291 2606 na agenda do celular, ou clicar aqui. Feito isso, basta enviar um "oi" que o chatbot iniciará uma conversa em português conforme cópia abaixo:

Olá! Bem-vindo ao chatbot da Aliança #CoronaVirusFacts. Aqui você checa informações sobre a COVID-19 e suas vacinas. Escreva *1* para encontrar checagens sobre um determinado assunto ou *2* para ler as verificações mais recentes da nossa base de dados. Digite *3* para fact-checkers
Digite *4* para trocar o idioma
Digite *5* para saber quem somos
Compartilhe que eu existo! Copia e cole: https://wa.me/17272912606?text=oi

imagem de
Carmem Barcellos
Comendadora Augusto Ruschi, técnica em Meio Ambiente, graduada em Administração com habilitação em Marketing, pós-graduanda em Gestão Pública, bancária, eterna aprendiz e artista por vocação
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